sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Oráculo da Verdade *

O maior mentiroso de todos é aquele que diz não saber mentir. De acordo com várias fontes da psicologia, o ser humano é um Pinóquio por excelência, bastando estar acordado para faltar com a verdade.

Isso não é uma coisa boa, nem ruim. Apenas reflete, simplesmente, o que somos.

E cá entre nós, o grande problema não é contar lorotas, mas sim vê-las desmascaradas. E esse é um papel social importantíssimo atribuído a aquelas pessoas que publicamente odiamos, mas portadoras de um magnetismo irresistível. Falo dos fofoqueiros. Se não fosse por eles, a vida dos artistas e políticos não teria a menor graça e eles não ocupariam tanto espaço na mídia.

E dentre esses maravilhosos desmascaradores de figuras públicas, eis que emerge o fofoqueiro do milênio; o Pelé dos fofoqueiros. Falo do australiano Julian Assange, líder do site wikileaks, especializado em receber e divulgar documentações que mostram verdades nada honrosas no âmbito das relações diplomáticas internacionais.

Por conta da iniciativa de Assange ficamos sabendo de coisas importantíííísimas, das quais ninguém desconfiava:
- os norte-americanos mataram gente no Iraque;
- a Coréia do Norte é mimada;
- o Presidente da Venezuela é completamente biruta; tem macaquinhos no sótão;
- o PT não gosta dos Estados Unidos, mas o ministro da defesa adoora;
- a China quis acabar com o google por lá;
- o Presidente da França é delicado (será meio fru-fru?) e autoritário.

Cá entre nós, nenhuma dessas revelações do wikileaks é algo surpreendente. São coisas óbvias para quem é ao menos um pouco informado sobre política internacional.

Mas então por que isso deixou tantos governos furiosos, a ponto de mandar prender o pobrezinho do Julian Assange por ter feito sexo sem camisinha (que nojo!)? Ora, simplesmente por ter liderado a divulgação de documentos onde os fofoqueiros com autoridade eram simplesmente identificados.
Então, o Assange pode ser enquadrado como o fofoqueiro que faz fofoca dos outros fofoqueiros... Meio confuso, não? Mas é essa a verdade mais nua e crua.
O mais grave de tudo é que o cara, dentro de sua estratégia de divulgação, está apenas usufruindo de um dos direitos publicamente considerados dos mais sagrados pelo “mundo livre”, qual seja: a liberdade de imprensa, o que inclui a proteção às fontes de informação (com o que o Wikileaks é primorosamente cuidadoso).
E observe o seguinte: até agora nenhum dos desmascarados pelo site falou em mentira, difamação ou calúnia. Apenas mostraram desgosto por terem sido dedurados, o que gerou uma ingênua vontade de torcer o pescoço do australiano.
Tomara que os governos da Suécia, Reino Unido, EUA e outros deixem de bobeira e libertem logo o Julian Assange. Por mais que as autoridades desses países queiram, agora é tarde para deter o espírito do Wikileaks. O site pode até ser tirado do ar; mas outros surgirão, partindo da mesma tecnologia de proteção de fontes de informação, inundando o mundo virtual com algo que o mundo real insiste em estranhar: a singela verdade.
Até Breve!

Eduardo S. Starosta

* Pauta inspirada pelo amigo Marcone Formiga