sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Câncer Latino-Americano: Aprendendo com o Inacreditável



 A Venezuela, além de possuir as mulheres mais bonitas do mundo (pelo menos são as maiores vencedoras dos concursos de miss) tem o estadista com maior capacidade de dizer coisas estapafúrdias em menor tempo.

Há uns dias – face às notícias de câncer de Cristina Kirschner, o sujeito que conseguiu a proeza de quebrar com a democracia mais longeva da América Latina e levar um “cala boca” do Rei da Espanha, enunciou mais uma pérola. Para ele, os tumores que assolam os quatro principais estadistas do Continente – além da presidente argentina, ele próprio, Lula e Dilma Rousseff – seria uma doença “plantada” pelos espiões norte-americanos.


Claro que a análise chavista é ridícula e falastrona. Mas isso, antes de denotar burrice, parece mais ser um estilo de garantir empatia com seu público.

Porém, na observação de Chàvez tem pelo menos uma questão relevante. Qual será a probabilidade de os quatro políticos mais influentes da América Latina (Lula ainda conta, sim!) – com histórico de vida e hábitos completamente diferentes - terem tumores diagnosticados quase que paralelamente (cerca de um ano de diferença entre o primeiro – Dilma – e o último – Cristina)?

Se a doença for aleatória, ou mesmo relacionada a hábitos físicos como alimentação, fumo, etc, a chance é muito pequena, para não dizer desprezível.

Mas e se houver outros fatores subjetivos, ou associados à predisposição mental (ou energética)?

Até bem pouco tempo, a maioria dos médicos ridicularizaria tal questão. Entretanto, nos últimos tempos, estudos sobre distúrbios mentais – como a depressão – deixam claro que a situação do estado de consciência e inconsciência das pessoas pode, sim, causar doenças e acidentes físicos, como derrames cerebrais, infartos... e câncer!

Os terapeutas orientais já tinham conhecimento de tais associações há séculos ou até há milênios e uma coisa boa dos últimos tempos é que as vertentes sérias do estudo médico e biológico  – mas aparentemente antagônicas – estão começando a dialogar em prol da ciência (mesmo cultivando algumas rixas apaixonadas).

À luz de tais ponderações, como tentar entender a coincidência do câncer coletivo dos quatro principais estadistas do continente?

Talvez um caminho seja analisar as similaridades comportamentais entre eles.
O que Dilma, Cristina, Chávez e Lula têm em comum além de serem ou terem sido presidentes de seus respectivos países (nos outros duzentos e tantos países do mundo, não tenho notícia de nenhum presidente com câncer)?

Simples argumentos de ansiedade, tensão, agenda super-lotada e confrontos com opositores também não mostram quaisquer diferenças em relação aos outros estadistas globais. Então, o cargo em si de presidente – isoladamente – não quer dizer nada!

Mas será que ser presidente do Brasil, Argentina e Venezuela gera algum diferencial?

Acredito que sim!

Veja só: a política latino-americana é fortemente marcada pelo revezamento entre ditaduras militares e governos populistas, ou eventualmente a mistura de ambos.
Agora estamos na fase populista, que se diferencia pela condução dos chamados currais eleitorais por meio de ações assistencialistas e discursos de base lógica questionável, mas eloqüentes o suficiente para despertarem paixões. A bem da verdade, Dilma não tem esse perfil, mas herdou tal contexto de Lula, o que dá quase no mesmo.

O problema é que tal falatório carrega notórias inconsistências intrínsecas e invariavelmente resultam na falência financeira e moral do Estado e suas instituições. E é isso que acaba dando espaço para as tradicionais quarteladas latino-americanas.
É difícil crer que os populistas acreditem em suas próprias palavras. O clima de tensão de serem desmascarados ou terem que conviver com o controverso deve ser bem considerável, ao ponto de criar angústias e depressões especiais, as quais podem precipitar somatizações e facilitar o surgimento de doenças físicas, como o câncer.

Por ironia, a melhor definição para essa doença um tanto quanto genérica é a multiplicação defeituosa das células. Em outras palavras, partes do corpo se distorcem da suas próprias verdades. E tal incoerência, se não for tratada em tempo, leva à morte.

Coincidentemente, os governos populistas da América do Sul padecem de mal análogo: a distorção lógica da gestão política gera crescentes e fortalecidos tumores na sociedade, sejam eles de origem assistencialista, ou mesmo corporativos. Então, não é de se estranhar que os governantes da Argentina, Venezuela e Brasil tenham contraído câncer para eles próprios, dentro desse processo de predisposição mental à doença.

Ainda acredito que Dilma Rousseff, sob essa ótica, tenha a vantagem do potencial de diferenciação rumo a uma gestão pública responsável, o que seria a cura do câncer do Estado. Entretanto, não se pode ignorar que por mais boa vontade que tenha a presidente, ela conta com inimigos poderosos como aliados, preparados para garantir a sustentação de políticas de sangria dos recursos públicos e manipulação dos currais eleitorais.

Em resumo, Hugo Chávez talvez não esteja de todo errado ao levantar a lebre da coincidência de quatro estadistas sul-americanos sofrendo ao mesmo tempo de câncer.

Nessa ótica, não posso deixar de fazer votos de boa saúde em 2012 para todos os líderes continentais.

Mas os votos de Boas Festas do Escracho Geral, vão para o seu vasto e inumerável punhado de leitores.

Feliz 2012 e até breve.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Tamanho Verdadeiro do Brasil


Já dá para antecipar! 
A notícia que saiu esses dias nos jornais britânicos vai se transformar no grande instrumento da propaganda ufanista nacional no início do ano: de acordo com o Centro de Pesquisa Econômica e de Negócios (CEBR, na sigla em inglês), o Brasil papou a sexta posição do Reino Unido no ranking das maiores economias do planeta. 

Tentando arrumar argumentos para esconder o orgulho ferido, a imprensa especializada do que já foi o maior império do mundo atribui a ascensão brasileira a uma série de fatores pontuais, dos quais se destacam o crescimento do país como fornecedor de recursos naturais e a emergência de consumo de uma população predominantemente pobre, suja e boa de bola.

Dessa forma, fica mantido o orgulho britânico do poderio de sua indústria e o consolo de que dentro de cinco anos eles deverão superar o tamanho da economia dos tradicionais rivais franceses.

Entretanto, se eles simplesmente decidissem parar de tentar camuflar um possível fracasso e investigassem a fundo a subida brasileira no ranking em questão, encontrariam uma explicação fácil e coerente para o fenômeno.

Olha só que dado interessante: pegando as informações consolidadas do Banco Mundial entre 2003 e 2010, a participação brasileira na economia global pulou de 1,47% para 3,31%. Ou seja, evoluiu em 125%, superando inclusive a expansão da participação da toda poderosa China (passou de 4,38% para 9,39%, aumentando 114% em termos de participação). 

Por outro lado, em termos reais o crescimento econômico do Brasil no período em questão foi de 41,8%, diante de 11,23% do britânico.

Então, vamos fazer uma simples conta de aritmética. Em 2002 o Produto Interno Bruto do Brasil era de US$ 504 bilhões, enquanto o do Reino unido chegava a US$ 1,6 trilhão. Com o crescimento desses países, identificado no parágrafo anterior, o PIB brasileiro deveria ter passado para US$ 715 bilhões, enquanto os súditos da Rainha Elizabeth ficariam com US$ 1,79 trilhão.

Peraí: tem alguma coisa errada nessa conta. Se estão dizendo que a riqueza gerada pelo Brasil em 2011 superou a inglesa, como é que os números mostram uma situação bem diferente?

Com um pouco de paciência dá para entender o que aconteceu.

Você reparou como de uns anos para cá ficou mais barato comprar uísque escocês, carros de outros países, computadores, brinquedos e qualquer outra coisa importada? Pois bem, isso aconteceu simplesmente porque o real se valorizou frente às demais moedas. E já que o cálculo do PIB comparativo tem o dólar como padrão, não é difícil entender que com a nossa moeda valendo bem mais nos últimos oito anos, a contrapartida natural é que o padrão monetário norte-americano (assim como o Euro, Libra, Iene, Yuan, etc) passe a valer menos nas contas dos brasileiros.

Dessa forma, sem termos reais a economia de nosso país cresceu para o 41,8% no período em questão, a contabilidade amalucada da variação cambial fez com que o PIB brasileiro ultrapassasse o patamar de US$ 2,2 trilhões, papando o posto inglês de sexta maior economia do planeta.

Agora, vamos à pergunta sacana: Isso é verdade?

É e não é.

É verdade na medida em que as circunstâncias da contabilidade nacional mostram isso de maneira precisa. Mas é mentira na medida em que tal situação não tem sustentação eterna. Cedo ou tarde o real terá de passar por um ajuste na direção da sua desvalorização, o que fará com que os britânicos retomem seu status, da mesma forma em que o PIB  italiano, indiano, canadense, russo, espanhol, mexicano e sul-coreano também tendam a ultrapassar o Brasil, conforme a intensidade da correção cambial.

A figura a seguir mostra muito bem o funcionamento do fenômeno em questão. Na medida em que o real foi tendendo a ficar mais próximo do dólar (valorização, portanto), a participação brasileira no PIB mundial foi aumentando rapidamente.

Nosso país ultrapassou a economia britânica dentro de um contexto no qual o Dólar Médio ficou em R$ 1,66. Entretanto, nos últimos meses, com o agravamento da insegurança global - por conta do aprofundamento da crise (especialmente européia) - o valor da moeda brasileira diante da norte-americana vem mudando de patamar e se situando ao redor de R$ 1,85.
De acordo com tal cotação, o Reino Unido já teria retomado sua tão zelada 6ª posição.


É lógico que a explicação que acabei de dar tende a ser ignorada por aqueles com senso de marketing político.

Imagina só que prato? O próprio concorrente (no caso, os britânicos) dizer que foi derrotado! Dentro da tradição da política de palavras (e não de atos) brasileira, esse é um piquenique que deverá ser degustado por muito tempo, apesar de estar sendo baseado em um distorção dos fatos.
No momento em que os juros caírem no Brasil (se caírem...), os investidores estrangeiros perderão o interesse em deixar dinheiro por aqui e o real vai se desvalorizar, fazendo com que o tamanho da economia nacional retorne a patamares mais realistas.

Enquanto isso não ocorrer, as autoridades econômicas vão continuar saboreando o sucesso da circunstância que, se por um lado dá notabilidade ao Brasil, por outro deixa o país cada vez mais pobre em termos de indústria e emprego industrial. 

É esperar para ver.

Até Breve

Eduardo Starosta


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Algumas Coisas Esperadas para 2012 de Meter Medo




Finalmente estamos na contagem regressiva de 2011. Na medida em que as caixas postais ficam lotadas de e-mails de votos de Boas Festas, começamos a preparar o espírito para as batalhas do próximo ano.

E pelo jeito que anda o mundo, 2012 carrega potencial para ser palco de grandes e intrigantes encrencas. Vejamos, a seguir, algumas delas.

 O Fim do Mundo dos Maias – O Sol vai ficar meio atacado das idéias e mandar explosões energéticas para a Terra, cujo núcleo vai aumentar a temperatura e derreter a crosta, fazendo a maior bagunça com os continentes. O super-vulcão de Yellowstone vai explodir, Los Angeles vai afundar no mar e o Hawaii vai arder em chamas. Somente os heróis bonzinhos é que vão se safar do fim do mundo. 

Essa versão de 2012, sob a batuta de Hollywood, é a que mais alimentou o imaginário das pessoas com relação ao fim do mundo agendado para o dia 21 de dezembro do ano que vem. E quem sou eu para duvidar dos maias, ainda mais que muitas pessoas que respeito acreditam nesse apocalipse e até estão se preparando para isso.

Mas pensando bem, nada se pode fazer contra a destruição externa do planeta e mesmo os sobreviventes das calamidades iniciais acabariam  perecendo por vários outros motivos, ou teriam que viver em um mundo bem pouco convidativo.

Sendo assim,  o melhor é fazer uma grande festa global de despedida no dia 20 de dezembro. E caso nada aconteça, sendo essa mais uma daquelas profecias furadas, ter-se-á ainda mais motivos para continuar comemorando no dia 21.

O Trono da Coréia do Norte -  Se cruzarmos a história da vida com as obras de Karl Marx, poderemos facilmente chegar à conclusão de que ele era um bom vivant que gostava de pensar diferente. E se existe vida depois da morte, o fantasma do principal autor do Manifesto Comunista deve estar meio frustrado pelo fato de os poucos países que ainda adotam oficialmente o comunismo não sejam mais do que ditaduras amalucadas, baseadas no culto à personalidade dos "amados e sanguinários líderes", muito longe do sonho de que os trabalhadores controlariam os meios de produção.

Um membro desse seleto clube bateu as botas no sábado passado. Para tristeza e luto do PCdoB, o norte-coreano Kim Jong-il desembarcou do mundo dos vivos. E como em um Estado comunista quem decide as coisas é a classe trabalhadora, de pronto o sucessor nomeado foi o filho do ex-ditador, um rapaz de 30 e poucos anos com jeito de truculento e bochechas parecidas com as do Kiko, do seriado Chaves. Mas sendo a classe trabalhadora muito democrática, resolveram encostar nele o titio, a titia e o comandante das forças armadas.

Em situações normais, isso significaria apenas um período de regência até que o novo imperador estivesse pronto para administrar o país. Mas em se falando de Coréia do Norte, estamos nos referindo a um país inventado por uma dinastia que está agora chegando apenas na sua terceira geração.

E pela forma como a coisa sendo construída, é muito provável que em poucos meses estejamos recebendo notícias de disputas violentas pelo poder absoluto dentro da própria família. 

Mas a coisa não deve ficar apenas ao nível de lavar a roupa suja em casa. Líder que é líder na Coréia do Norte tem que ser venerado como um Deus e para isso deve ser temido. 

Considerando que o governante do país possui mísseis de longo alcance e bombas nucleares, é puxa-saco da China, vive trocando  provocações com os sul-coreanos e detesta os japoneses e norte-americanos, a idéia tradicional dos déspotas de mexer com o inimigo externo para conquistar a paz interna parece bem apropriada para o momento. 

Então, o familiar que chamar para si a figura do que mata de fome seus súditos, mas não leva desaforo para casa será o sucessor consolidado de Kim Jong-il. Em nesse imbróglio agendado para 2012 não está descartada a hipótese de mortos, exilados e feridos, ou viradas de mesa. 

Em princípio, o favorito para ocupar a vaga do ditador é o filho bochechudo Kim Jong-un. Mas minha aposta vai para a titia Kim Kyong-hui. Afinal de contas, as mulheres estão tomando conta de tudo mesmo... e por que não das ditaduras comunistas?

Iraque: Saem os Tanques; Fica a Roupa Suja - Até prova em contrário, foi para desforrar o pai que George Bush Filho arrumou pretexto para invadir o Iraque, derrotar o ex-ditador Saddam Hussein e deixá-lo ser enforcado pelos desafetos.

Mas por mais violento que seja, o trabalho de invadir um país militarmente bem mais fraco é a parte mais fácil do negócio. Difícil mesmo é sustentar o domínio de um povo hostil ao invasor e repleto de rivalidades internas.

Assim, no início desta semana que antecede o Natal, quando o presidente norte-americano Barack Obama finalmente cumpriu seu compromisso de campanha e retirou seus soldados do território iraquiano, de cara, o primeiro ministro (xiita) ordenou para que botasse o vice-presidente (sunita) do país atrás das grades. Esse último, que nao deve ser bobo, se mandou para o abrigo dos aliados no Curdistão (norte do Iraque).

E com isso, a velha e boa Bagdá voltou a conviver com explosões para todo o canto. Nas últimas horas já foram contabilizados 67 mortos e os números deverão aumentar dramaticamente.

Chegar-se-á, então em 2012 com o Iraque em plena guerra civil, com sunitas e xiitas disputando o poder supremo do país, ou esfacelando-o após milhões de mortes inocentes por bala ou fome.

Fica aqui a crítica à condução dos EUA à invasão de Bush. Sim, os tanques foram retirados. Mas isso só expôs a roupa suja que nos tempos de Sadam estava - mau ou bem - contida. Será que a região se ressentirá de saudades de um ditador sanguinário? Uma dívida histórica está criada...

Argentina: Tangos & Tragédias – Dizem que a operação foi dramática: meia centena de policiais invadiu a emissora Cabevisión do grupo jornalístico Clarin, após ordem judicial de intervenção. O motivo: a presidente Cristininha não gosta da citada empresa jornalística e está empenhada em destroçar os inimigos da imprensa.  

Isso ocorre em paralelo a projeto de lei voltado ao controle do papel-jornal, além de outras ações voltadas a cercear a liberdade de expressão dos inimigos. A imprensa amiga – centrada no grupo Uno – está livre de tais pressões, deixando-se explícita a existência de dois pesos e duas medidas no trato da questão.

Essa bata;ja deverá se aprofundar no ano que vem e lamentavelmente exercerá influência sobre as inspirações de censura que volta e meia ressurgem no Brasil. E o pior: o controle da imprensa (e da opinião pública) é o passo mais importante para o estabelecimento e solidificação de ditaduras. Tomemos cuidado com os dramáticos acordes de tango de nosso país vizinho.

União Européia: Os Faniquitos da Velha Senhora – Forçando um pouco a imaginação, o Velho Mundo - mais conhecido como Europa - pode ser visto como uma senhora da terceira idade com uma situação patrimonial acomodada e conformada com isso. Mas quando essa calma bucólica é abalada, a anciã prontamente abandona sua postura de diva sofisticada e culta, passando a rodar a baiana e armando o maior barraco.

Azar de quem entendeu o que isso quer dizer. O fato é que a União Européia  vai entrar em 2012 sob uma crise sem precedentes desde o final da Segunda Guerra Mundial. Sim, a questão emergencial é financeira, comprometendo a capacidade operacional de países com grande tradição de proteção social, ao mesmo tempo em que a poupança de centenas de milhões de pessoas do continente foi direta ou indiretamente atingida.

Esse conceito de poupança inclui, aí sim, a questão estruturalmente mais grave da Europa. Em nome da justiça social dos países de lá construíram um sistema previdenciário extremamente bondoso, beneficiando a aposentadoria, os desempregados e, em alguns casos, as mulheres ou casais com filhos pequenos.

O galho é que o custo da brincadeira passou a ser insustentável de manter a partir da bancarrota das finanças públicas das nações européias. Daí, a conseqüência natural é que as pessoas que representam a figura da senhora de  terceira idade descrita no parágrafo inicial, vão ter que ser obrigadas a largar da moleza de pegar novamente o trabalho. E isso vai ter um custo político enorme. Mas parece ser inevitável.  

Brasil: A Recessão da Ética e do Dinheiro - Pessoalmente, sou feliz com a minha careca. Mas para aqueles que não se conformam em ser comparados a aeroporto de mosquito, a entrada de 2012 no Brasil deverá ser motivo de ciúmes, pois as coisas estarão bem cabeludas por aqui.

A verdade é que quando já estávamos acomodados com a idéia de que boa parte de nossos representantes no legislativo e executivo são corruptos e incompetentes, eis que o poder que deveria zelar pela justiça se mostra, a cada dia, mais submerso em um mar de lama dos mais fedidos.

Nas últimas semanas, não foram poucas as notícias dando conta de juízes de baixo, médio e alto escalão sendo flagrados de uma situação patrimonial muito superior aos seus ganhos salariais, que freqüentemente superam a casa dos R$20.000 mensais.

O que parecia ser fruto do chamado comércio de sentenças, começa a ganhar outras dimensões, que chegam a manipulações e desvio de verbas do próprio poder judiciário diretamente para o bolso dos juízes com sede de riqueza.

A corregedoria do Conselho Nacional de Justiça - que está colocando tais coisas à tona -  está prestes a ser impedida de continuar suas investigações por conta das entidades representantes dos magistrados. Essa questão tende a feder bastante em 2012.

De uma certa forma, a população brasileira até tem como reprimir a corrupção nos legislativos e executivos do país, não reelegendo os representantes mais travessos. 

Mas no caso da justiça, estamos ferrados: os juízes do Brasil são escolhidos por concurso público e tem emprego vitalício. Talvez esteja chegando a hora de mudar isso, transformando os cargos da magistratura também em temporários e eletivos. Isso não tem nada de utopia. Países como EUA mantém essa prática séculos e parece que funciona muito bem.

Agora, no campo econômico, as perspectivas para 2012 também não são das mais eufóricas para o Brasil. A junção da crise mundial com nossos problemas internos de juros, inadimplência, câmbio, aumento da carga tributária e redução do nível de atividade das empresas deve fazer com que os próximos trimestres sejam bem difíceis para se ganhar dinheiro.

Mas isso é tema para uma próxima edição de Escracho Geral, já que os assuntos de hoje já estão tomando tempo demasiado do leitor.

Feliz Natal e até breve.

Eduardo Starosta

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Bocejo da Economia Brasileira


O Bocejo da Economia Brasileira – Escracho Geral é escrito por um economista que vez por outra resolve bancar o engraçado; mas que nunca deixa de ser economista. 

O compromisso que pessoalmente assumi ao idealizar esse blog foi simplesmente não mentir e tentar dizer as coisas da forma mais fácil possível, sem tentar virar proprietário de qualquer verdade. Pelo contrário, estou aqui para polemizar com as verdades que normalmente se aceita sem pensar muito e que podem ser a gênese de muitas encrencas no futuro.

E dentro dessa linha, desde o ano passado – em plena campanha eleitoral – insistia que 2011 seria um ano bem cabeludo tanto para o Brasil como para a economia global e por motivos diferentes.

Não deu outra: a Europa continuou patinando em graves problemas fiscais (déficit público e instabilidade financeira), enquanto os EUA só agora, nos últimos dias do ano, mostram indicativos que podem estar vendo a luz no final do túnel.

Mas no Brasil, as encrencas econômicas mostraram outras características. A crise financeira internacional quase não foi sentida por aqui. Isso ocorreu não por causa de nossas polpudas reservas cambiais, mas simplesmente porque - com ou sem crise - temos estruturalmente os juros mais altos do mundo e isso acabou minimizando os riscos diretos do sistema financeiro.

Então, quando o PIB do terceiro trimestre registrou estagnação; a produção industrial mostrou estar em queda livre; e o comércio deixou de crescer logo antes do Natal, é interessante saber o que realmente está acontecendo. 

Por que o Brasil parou de bombar, enquanto os países em condições similares continuam a crescer em ritmo de dar inveja?

Vamos aos fatos:

   1) Os juros reais brasileiros são os maiores do mundo. Aqui nas terras tupiniquins a taxa básica (o que o Banco Central paga aos investidores em títulos ) real é de 5,1% ao ano, descontada a inflação. Na Rússia e China é de 1%, enquanto na Índia chega até a ser negativa (-2,3% ao ano). E se considerarmos os juros para quem realmente precisa de dinheiro – empresários e famílias com planos de investimento ou problemas orçamentários – a coisa fica terrível: os 5% ao ano normalmente dão lugar a taxas superiores a 10% ao mês;

     2) Os outros Brics alavancam sua economia, predominantemente, por meio de exportações industriais (especialmente Índia e China). Mas o Brasil, orgulhoso proprietário da moeda que mais se valorizou na última década, só acaba tendo competitividade para vender soja, frango, ferro e outras commodities com baixo valor agregado, já que produzir em nosso país – comparativamente – é mais caro do que produzir nos outros em situação industrial semelhante. Isso seria até interessante se este custo a maior fosse em função de salários que proporcionassem melhor padrão de vida aos trabalhadores do país. Mas nada disso: a questão é puramente financeira e os operários não se beneficiam em nada disso... só são prejudicados pela escassez de empregos;

    3)   E agora a pior parte: a arrecadação de impostos não pára de bater recordes, crescendo muito mais do que o desenvolvimento da economia nacional. Veja só: em 2011 o PIB brasileiro deve ficar ao redor (provavelmente abaixo) de 3% de crescimento. Ao mesmo tempo, a arrecadação federal – administrada pela Receita – aumentou 8,43%, descontada a inflação. Desde 2007, essa expansão ficou em detestáveis 28%. Detestáveis porque isso simplesmente significa que essa grana (cerca de R$ 381 bi em quatro anos) saiu do nosso bolso, pobres contribuintes, para um poder executivo federal que desde os tempos da independência se mostra um péssimo gastador. Se incluíssemos nessa conta os impostos estaduais e municipais, o quadro ficaria ainda mais tenebroso.

   4)   Desde meados da década passada, a rápida popularização do crédito pessoal foi fundamental para dar suporte ao crescimento do consumo. Carros parcelados em 100 meses, televisores em 18 meses “sem juros” (mentira braba), dentre outros atrativos, proporcionaram a grande festa consumista das classes B, C e D do Brasil. O negócio era mais ou mesmo assim: se o salário permitia, a prestação era assumida. Essa maneira irresponsável de tratar as contas pessoais (incentivada pelas grandes redes de consumo, sem um preventivo freio das autoridades) acabou por gerar um processo de esgotamento. Na primeira turbulência econômica, a capacidade de continuar comprando e mesmo de honrar os créditos contratados foi por água abaixo. O resultado disso é o aumento da inadimplência, que passa dos 18% ao ano e promete crescer nos próximos meses.

Que encrenca, hein? E como resolver tal situação. A resposta não é muito complexa, mas é trabalhosa e contrária a alguns interesses. Mas vamos lá:

    1)   Reduzir os juros básicos e usar os bancos públicos como reguladores de mercado, forçando as demais instituições financeiras a trabalhar com custos do crédito mais palatáveis.

Quem vai gostar? Os brasileiros sem grandes poupanças e os empresários.

Quem não vai gostar? Os bancos, o governo e os investidores em títulos da dívida brasileira.

    2)   Desvalorizar o Real, ao ponto de tornar os produtos brasileiros novamente competitivos no mercado internacional (decorrência lógica da queda dos juros).

Quem vai gostar? Os exportadores, as empresas que operam no mercado interno em desvantagem por conta das importações baratas, os desempregados da indústria que aumentam suas chances de conseguir emprego e os turistas estrangeiros em visita ao Brasil.

Quem não vai gostar? Os que gostam de importados (consumidores e comércio), e o banco central (por conta da alta da inflação).

Quem vai detestar? As criancinhas que sonham em conhecer a Disneylândia.
   
    3)   Frear o crescimento da arrecadação de impostos, diminuindo aos poucos a carga tributária.

Quem vai gostar? Eu, tu (você), ele, nós, vós e eles!

Quem não vai gostar? Os governos, quem vive dos governos e quem trabalha só para os governos.

Quem vai detestar? Os governantes, é claro.

    4)   Desenvolver legislação sobre a instituição da falência pessoal e criar programa emergencial de renegociação de débitos das pessoas físicas.

Quem vai gostar? Os endividados

Quem vai adorar? Os endividados maníacos (ter-se-á que criar freios ao endividamento não razoável)

Quem não vai gostar? Quem vive de juros altos, bancos e cartões de crédito

Enfim, a continuidade da crise global tem efeito direto sobre o Brasil, se bem que moderado em função do modesto grau de internacionalização de nosso país (a exemplo dos EUA).

A solução está realmente no trato de nossas questões internas (claro que com conseqüências externas). Em parte, o governo federal e o Banco Central já estão conduzindo as políticas econômicas nessa direção, via redução dos juros básicos (SELIC). 

Mas ainda falta muita coisa para a Patroa botar para funcionar. Talvez  a tomada de medidas mais corajosas e impactantes aconteça depois da reforma ministerial. Enquanto isso, vamos nos acostumando com o Brasil em ritmo de bocejo.

STJ de Salto Alto na ChinelagemRidículo é até elogio para as recomendações do presidente do STJ, Ari Pargendler em relação  aos calçados que podem ou não podem ser usados nos tribunais. Dedos de fora só são permitidos para as mulheres, desde que estejam de salto alto. A sandália da moda, estilo gladiador, não caiu no gosto de nosso magistrado-mor e está PROIBIDA! Parece mentira, mas não é. Confiram isso na reportagem recentemente veiculada na Folha de São Paulo, onde tem, inclusive, os “modelitos” adorados e os detestados pelo Pargendler CLIQUE AQUI. Esse cara, ao invés de Chefe da Justiça, deveria ser consultor de moda, ressaltando o seu fetiche por pés femininos.

Conversa de Fila de SupermercadoDia desses, finalizando algumas compras no supermercado fui à fila do caixa. Um sujeito cabisbaixo que estava à minha frente cedeu a vaga, pois esperava por mais mercadorias. Isso aconteceu também com quem me sucedeu e o homem saiu entabulando conversa.

- Pela tua cara, trouxe a mulher ao supermercado. Isso deixa qualquer um maluco!

- É, e o pior é que ela é a segunda mulher...

- Putz, e as segundas mulheres engordam mais rápido ou devagar que as primeiras?

O cabisbaixo não respondeu.

Pouco depois, passando minhas compras pela caixa percebi a chegada da esposa do rapaz. Realmente era uma tipa bem roliça. 

E ele não sabia se caia na gargalhada ou se escondia de vergonha.

Eu e o sujeito que desenvolveu a conversa saímos risonhos, mas pensativos.

Aos que me chamarem de machista reitero que apenas fiz um relato do que vi e ouvi.


Até Breve

Eduardo Starosta

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A História da “Inês é Morta” e o Pacote do Governo




No século XIV, quem morava no que hoje é conhecido como Brasil, jamais sonharia que um dia seria obrigado a usar calças, ou ter que lidar com baratas, ratos, pardais, pombas, gripes e outras coisas trazidas pelos nossos futuros colonizadores.

Enquanto isso, lá na Europa, os portugueses, se preparavam para dominar os mares e serem protagonistas de histórias incríveis que foram o berço de grande parte do anedotário brasileiro.

Veja essa história de amor: lá por volta de 1340, o sucessor da Coroa Portuguesa, D. Pedro I (não era o nosso, filho de D. João VI), filho do Rei Afonso IV se enrabichou com a dama de companhia de sua esposa. O nome da gaja era Inês de Castro.

O papai e a mamãe do futuro soberano lusitano não aprovaram o namorico do filho e mandaram a coitadinha da Inês para longe da corte, confinando-a em um castelo perto da Espanha.

E para aumentar o drama, a esposa de Pedro, Constança, morreu em 1345. O príncipe, louco de saudades de seu rabo de saia, desobedeceu o rei-papai e mandou buscar Inês de Castro. Os pombinhos ficaram juntos por uns 10 anos e tiveram quatro filhos.

A década de lua de mel não sensibilizou os monarcas e o rei-papai mandou três de seus conselheiros matarem a pobrezinha da Inês e seus rebentos (netos do rei, conseqüentemente). QUE MALDADE!

D. Pedro, em sua incontrolável fúria, fez um pouco de birra, mas no final obedeceu à mamãe e não criou encrenca. E assim se passaram mais dois anos, quando Afonso IV morreu. A partir daquele momento, o príncipe havia se tornado o rei de Portugal.

Um de seus primeiros atos foi mandar matar os assassinos de sua amada (um deles conseguiu fugir). Logo depois, desenterrou o corpo decomposto de Inês e a posicionou no trono, obrigando toda a corte lusitana a beijar a mão da Rainha.

Pedro finalmente havia feito justiça (na ótica dele), mas isto não adiantava para trazer Inês de volta a vida.

Daí vem a expressão “agora a Inês é morta”, como referência à solução de uma situação, cujo desenlace já ocorreu e, portanto, de nada mais serve – por melhores que sejam as intenções.

Essa história se encaixa feito uma luva como analogia das recentes tentativas de o governo federal reverter a desaceleração da atividade econômica brasileira.

Sim, é verdade que a redução de IPI fez o preço de uma geladeira cair, em média, R$ 92,00 e o valor de um fogão ser reduzido em R$ 21,00. Na mesma linha, quem vai financiar um carro de R$ 25 mil, economiza cerca de R$ 125,00 pela diminuição do IOF.

Esses valores em si, não são lá muito entusiasmantes, mas podem fazer alguma diferença na hora das compras de Natal.

O problema é que o problema não é esse!

Em palavras simples, a dificuldade de grande parte dos consumidores não está – agora – no preço final dos produtos que ele deseja comprar, mas sim no seu enorme comprometimento financeiro com as dívidas do passado. Vejamos alguns dados do Banco Central:

·         Desde dezembro de 2010 a inadimplência não pára de subir no Brasil;

·         Inicialmente os dados comparativos eram bastante tímidos e nada alarmantes. Em abril de 2011, a quebra de adimplência era restrita a R$ 58 bi e crescia apenas 1,9% em comparação a abril do ano anterior;

·         No entanto, ao chegar em outubro, a inadimplência alcançou R$ 70,4 bi, o que equivale a uma assustadora expansão de 26% diante do mesmo mês de 2010;

·         O maior problema está nos 6,87% dos empréstimos para pessoas físicas com até 90 dias de atraso em outubro último. Exatamente um ano antes esse percentual estava em 5,48%;

·         Mas o pior mesmo são os papagaios pendurados em mais de 90 dias de atraso. Esses chegaram a 7,13% (em outubro passado) do volume de crédito, frente a  5,95% em outubro de 2010.

Tais informações deixam por demais evidente que sendo a intenção do governo a retomada do consumo de maneira consistente, mais importante do que baratear eletrodomésticos é oferecer modalidades de renegociação das dívidas das pessoas físicas por demais pressionadas pelos maiores juros do mundo.

De pouco ou nada adianta incentivar o consumo, ou até o crédito novo, se existe um estoque enorme e crescente de dívidas fora do prazo do pagamento.

Isso lembra a citada história da realeza de Portugal. A mistura de juros exagerados e incentivo oficial ao endividamento acabou por detonar os fundamentos econômicos de centenas de milhares de famílias de consumidores. Baixar impostos para reduzir preços nessa altura do jogo é quase como solucionar um problema cujas conseqüências já explodiram. 

É tarde demais. Só quem não está com a corda no pescoço é que vai aproveitar o pacote do Dr. Mantega. O efeito positivo, então, não será muito grande.

Poderemos conferir isso nas próximas semanas, a partir dos dados a serem divulgados das vendas de Natal em comparação às festas de final de ano dos anos passados.

Ou seja, “agora, a Inês é morta”!

É melhor que as autoridades econômicas comecem a pensar seriamente em medidas mais impactantes para fazer com que o Brasil escape de uma recessão no ano que vem.
Até Breve,

Eduardo Starosta