Já aviso de antemão:
quem não tem simpatia por explorar os limites da sanidade mental nem deve ler
esse artigo.
Mas se você mordeu a
isca e prosseguiu na leitura, então sugiro que faça o seguinte:
Coloque o dedo indicador
da mão direita dentro do nariz e o dedo mínimo da esquerda no ouvido;
levante-se calmamente e vá de encontro a alguém por quem você não nutra lá grande
apreço e administre-lhe uma farta cusparada orelha dentro.
Prepare-se para evitar o
revide, um processo trabalhista ou demissão por justa causa. Você tem ao seu
lado um álibi poderoso: segundo as mais recentes conclusões dos
neurocientistas, o cérebro humano toma as decisões de nossas ações antes de que
a situação seja avaliada pela consciência.
Trocando
em miúdos, isso quer dizer que a citada categoria de médicos e pesquisadores
simplesmente está admitindo que não temos qualquer autonomia para sermos os
protagonistas da nossa própria vida. O determinismo biológico seria a verdade
absoluta; o livre arbítrio, apenas uma ilusão; e a consciência serviria somente
para dar uma conotação aparentemente lógica aos atos previamente programados do
inconsciente de cada um.
A experiência do
neurologista Stefan Bode para chegar a tais conclusões foi mais ou menos a
seguinte: 12 voluntários submetidos a ressonância magnética no cérebro tinham a
tarefa de apertar um botão com mão direita, ou esquerda no momento em que isso
fosse ordenado. De acordo com o mapeamento elétrico das cacholas das cobaias, a
região cerebral responsável pela coordenação das atividades motoras era ativada
cerca de 7 segundos antes da ação consciente de apertar o citado botão. Dessa
forma, decifrando o significado da corrente elétrica, os cientistas conseguiam prever a ação futura
dos seus cobaias.
Em outro experimento foi
usado um elétrodo para estimular determinada região do cérebro para fazer com
que os pobres coitados ficassem com vontade de levantar a mão. Em outras
palavras, segundo os cientistas, isso quer dizer que é o cortêx que ordena a
pessoa ficar com vontade de executar o citado movimento, e não o contrário.
De posse desses exemplos,
os "especialistas no assunto"
extrapolaram as conclusões das observações em um ambiente controlado
para dizer que o ser humano não têm livre arbítrio; todas suas ações são
programadas pelo cérebro antes de serem mentalizadas pela consciência.
Como
decorrência lógica dessa afirmativa, então, não tem problema algum em dar
aquela cusparada que sugerimos no início deste texto em algum infeliz; assim
como deixa de ser moralmente razoável condenar bandidos, assassinos e outros
componentes da turma dos predadores sociais.
Os
cientistas chegam a admitir que gente como o serial killer norueguês, Anders
Behring Breivik (76 mortes), não teria de ser punido, já que ele apenas
obedeceu a uma ordem biológica. Segundo tais malucos, as convenções sociais só
devem existir para que tudo não vire uma desordem declarada; para que tenhamos
uma sensação de segurança que afinal não existe, uma vez que os atos de cada um
de nós seria irracional. Até o meu escrevendo esse texto; e o seu, lendo o
artigo! Einstein, Shakespeare, Newton, Sidarta Gautama, Sócrates e os próprios
neuro-cientistas seriam, na verdade, tão espertos quanto Tiririca ou um sujeito
chamado Luis Carlos da Fontoura.
E o que
seria o ser humano, então? Será que a nossa consciência é uma mera ilusão de
algo que não existe, como foi filmado em Matrix? Ou então seríamos corpos
biológicos gerenciados por consciências externas, como em Avatar? Finalmente,
nessa abordagem, poderíamos ser sofisticados robôs programados para um destino
vinculado ao capricho de algo ou alguém que não conhecemos?
Acho que
está na hora de liquidar com as gracinhas desses neurocientista metidos a bestas antes que sejam levados
demasiadamente a sério.
Primeiro
vamos rever as experiências que dariam suporte à “comprovação da inexistência
de livre-arbítrio”.
No
primeiro caso, as máquinas de ressonância identificavam sete segundos antes
qual seria a mão da cobaia humana que iria apertar o botão, como se fosse
possível prever perfeitamente o futuro.
Vejamos: cada
um dos analisados tinha a plena consciência de que dentro de instantes deveria
apertar o bendito botão com uma das mãos. Diante de tal expectativa, é mais do
que óbvio que eles fizessem um planejamento preliminar da ação, antes da ordem.
Isso é comparável, por exemplo, a ser meter em alguma encrenca e ter a
consciência da eminência de levar uma surra. Evidentemente, antes da sova se
concretizar é natural tomar a decisão da ação futura e preparar o corpo para
isso: enfrentar o agressor; fechar o corpo para se defender; ou dar no pé. Em
resumo, a não ser que a citada experiência tenha detalhes não revelados, ela
significa a mesma coisa que nada, em termos de comprovação.
Já no
segundo caso (o elétrodo em parte do cérebro gerando vontade de levantar a mão)
é facilmente descartado com uma antiga brincadeira de criança e médicos:
sentado numa cadeira, coloque a sua perna esquerda sobre a direita (ou ao
contrário) e dê uma leve pancada no joelho. Como resultado óbvio, a perna irá
se mexer em função do que todos conhecemos como reflexo. Da mesma forma, dar um
choque em alguma parte especial da cabeça pode muito bem gerar a necessidade de
levantar a mão, dar a sensação de fome, ou qualquer outra coisa.
Mas isso
não tem nada a ver com determinismo; é apenas o efeito físico reflexivo natural
do corpo.
Uma outra
faceta do que dizem os neurocientistas pode nos levar à própria antítese da
ciência, ou seja, a perspectiva da existência de uma inteligência superior
invisível que teria o papel de direcionar os rumos da vida, pelo menos em
termos de linha de tendência.
Chegamos,
assim, a um conceito metafísico em que além de Deus, há espaço para justificar a
eficácia de cartomantes, astrologia, búzios e outros oráculos, na medida em que
eles indicam desdobramentos de acontecimentos do futuro. A vantagem desses “bruxos
do mundo moderno” é que eles têm mais senso crítico do que os cientistas em
foco e admitem a possibilidade de mudar o destino.
Se sob o
ponto de vista tecnológico e de mapeamento, a neurologia evoluiu
fantasticamente nos últimos anos, a compreensão dos cientistas do que é o
cérebro, o pensamento e outras coisas, ainda continua na idade das trevas.
O melhor,
quando nos defrontamos com tais casos, é lembrar que todo o conhecimento
filosófico da modernidade (até o desses cientistas amalucados) teve como ponto
de partida algo simples e fácil de falar e compreender: falo do singelo “penso,
logo existo” de Descartes.
E cá
entre nós: duvidar da existência do próprio pensamento é o cúmulo da falta do
que fazer.
Até
Breve.
Eduardo
Starosta
... a perspectiva da existência de uma inteligência superior invisível que teria o papel de direcionar os rumos da vida, pelo menos em termos de linha de tendência.
ResponderExcluirMas isso existe, certo ? O problema é dar um nome para isso. Dizer que tem "inteligencia" é complicado. "Inteligencia" é muito coisa de animal. Dizer que é "invisivel" tambem é complicado. Visao é muito coisa de animal. Dizer que "direciona" tambem é complicado. Quem dirige ou segue numa ou noutra direcao sao animais. Mas existe uma "coisa" que afeta nossas vidas. O problema é achar um nome para isso. Mas pior mesmo é dizer que esta falando em nome dessa "coisa". Mas que existe, exite.
... a perspectiva da existência de uma inteligência superior invisível que teria o papel de direcionar os rumos da vida, pelo menos em termos de linha de tendência.
ResponderExcluirMas existe, certo ? Dizer que é uma "inteligencia" é complicado. Inteligencia é muito coisa de animal. Dizer que é "invisivel" tambem é complicado. Visao é muito coisa de animal. Dizer que "direciona" é complicado. Dirigir ou seguir numa direcao é muito coisa de animal. Mas que existe uma coisa que nao controlamos e que afeta nossas vidas, isso, sem duvida existe. O problema é alguem dizer que esta falando em nome dessa coisa.