Voltando do carnaval?
Mesmo sem ter caído na folia, a chance de você ter
cometido algum atentado ao fígado na onda do feriado prolongado é, no mínimo
razoável.
Então, para começar bem esse resto de semana (ou mesmo o ano, segundo
alguns), segue uma receita tradicional de suco anti-ressaca:
Pegue uma maçã, meia cenoura, um talo de salsão e o suco de uma laranja.
Bata tudo isso no liquidificador, acompanhado por água de coco bem gelada e
beba logo.
Pronto, lá se foi a ressaca (as menos graves, pelo menos)!
Mesmo com toda a dedicação das escolas de samba, é triste prever que o carnaval
desse ano provavelmente será lembrado pela violência: tiroteio prejudicando o
desfile da Vila Isabel no Rio; depredação e roubo das notas do desfile de São
Paulo; e o moleque imbecil de Quintão (RS) que atropelou 17 foliões, talvez
querendo imitar o energúmeno que fez o mesmo com dezenas de ciclistas em Porto
Alegre há alguns meses (será que ele está preso?)
Descontando esses e alguns outros absurdos da violência, tenho a
confiança de que a esmagadora maioria das pessoas soube como aproveitar os dias
de festa para gastar a energia que estava sobrando ou recuperar a que faltava.
Começamos, então, o ano de fato no Brasil, com todos
os desafios que teremos pela frente em 2012.
Dessa forma, não é despropositado
desejar a todos um Feliz Ano Novo (na verdade, o carnaval primitivo é isso
mesmo: a homenagem ao novo ciclo de fertilidade da natureza).
É interessante notar que enquanto
o nosso país simplesmente parou de funcionar por quatro dias, o mundo continuou
funcionando, já que o carnaval só é realmente levado a sério por aqui. E
descartando os argumentos pernósticos contra a nossa festa nacional (todos os
países têm o seu momento de parada e é ótimo que o nosso seja em nome da
alegria e liberdade!), é adequado pensar que estamos acordando de uma longa
soneca, onde a realidade mundial mudou pelo menos um pouquinho enquanto
dormíamos.
Então, a proposta de hoje é simplesmente dar uma rápida passada no que
está acontecendo de interessante no planeta e que deverá ter desdobramentos nas
próximas semanas, meses ou anos.
Começando pelo Japão, o arquipélago mais rico do mundo está com sérios
problemas energético.
Depois dos desastres naturais do ano passado, com
direito a tsunamis em Fukushima e terremotos, a segurança das usinas nucleares
do país ficou seriamente abalada. E com a parada do reator número 3 de Takahama
(centro do Japão), apenas dois dos 54 reatores nacionais continuam em operação.
A questão matemática é simples: está faltando energia
por lá e o governo já fala em reduzir o consumo das residências em pelo menos
10%. Parcialmente, a situação é compensada pelas usinas térmicas
(principalmente a carvão), atuais vilãs do meio ambiente.
E aí se cria o problema que terá alcance global: as
formas atuais de geração de energia, ou são inseguras, ou agressoras do meio
ambiente, ou ineficazes, ou antieconômicas.
Existe solução no curto prazo?
Aparentemente não, uma vez que as formas geradoras de energia limpa ainda são primitivas
em termos de capacidade para cobrir a demanda.
No longo prazo (entre 10 e 20
anos), entretanto, o cenário é animador: a fusão nuclear poderá estar
aperfeiçoada, assim como tecnologias de aproveitamento da energia dos ventos, das
marés e do sol. O problema é que quanto mais energia o mundo é capaz de gerar,
maior é o gasto da humanidade (isso é científico!) e o futuro mais longínquo
pode trazer mais desequilíbrios... e soluções inovadoras!
Na Holanda, Mark Post está levando a sério o seu ideal de acabar
com a chatice dos movimentos vegetarianos. O cientista divulgou na imprensa que
lá por outubro ele vai ter carne suficiente para fazer o primeiro hambúrguer de
células-tronco da humanidade. Em outras palavras, carne vermelha legítima sem
matar nenhuma pobre vaquinha!
O sujeito está meio desacreditado no meio
científico sob o argumento de que a produção de carne dessa forma não gera
produtividade suficiente para ser
relevante e que para o produto se tornar agradável ao paladar humano, será
necessário incluir gordura e sangue artificial na receita.
Entretanto, se a iniciativa der certo e for
aperfeiçoada, estaremos iniciando uma grande revolução na alimentação e no meio
ambiente mundial.
Imagine que cerca de 60% do efeito estufa do globo é
provocando pela flatulência dos bovinos. A partir de uma eventual competição parcial
com a pecuária de corte (hambúrguer de laboratório eu até posso comer, mas
duvido que eles inventem uma costela gorda sintética de qualidade!) os “pums”
seriam menos impactantes na natureza.
Por sinal, é perfeitamente plausível a nossa geração aguardar
o inicio de novas revoluções no campo da alimentação e agricultura. A população
vem aumentando cada vez mais lentamente e a produtividade da produção deverá
dar ainda muitos saltos. Isso significará menor necessidade de áreas de
plantio, queda do preço das terras e melhores condições de manejo ambiental nas
próximas três ou quatro décadas.
O melhor de tudo, é que um contexto desses é letal
para uma das piores pragas ambientais geradas pela humanidade: “os ecolochatos”!
Já na Rússia, os cientistas estão se especializando em ressuscitar mortos ao invés de
criar vida (a população do país vem caindo desde o fim da URSS). David
Gilichinsky e sua equipe conseguiu pegar uma planta congelada há 30 mil anos,
cultivar em laboratório tecidos de seus frutos ... e Abracadabra! Nasceu uma
plantinha nova em folha lá da Era do Gelo.
Daqui a pouco vai ser possível fazer esse
procedimento com tecidos animais e trazer espécies extintas de volta.
A ironia
disso tudo é que Gilichinsky morreu pouco depois de concluir o experimento.
Será que ele estava com planos de voltar a vida?
É um mistério bem típico da civilização
russa, que tem especial aptidão para desenvolver coisas incomuns, não raramente
um tanto quanto sinistras... à La Rasputin.
E a Grécia, já no tema da crise econômica mundial, está papando mais 130 bilhões de
euros da União Européia e FMI para tentar arrumar suas contas públicas em
pandarecos.
O maior preço desse dinheiro não é o custo financeiro, mas a perda
de autonomia orçamentária do governo, que agora será acompanhado de perto por
uma comissão dos credores.
Daí é só esperar por nova onda de protestos, onde
lembranças dos velhos tempos de Atenas e Esparta serão resgatadas, além de
mágoas contra a Alemanha da II Guerra Mundial. Tudo isso para manter a insanidade
das contas públicas do país.
Uma pergunta: se o seu melhor amigo(a) estivesse
quebrado por mau uso do dinheiro, você empresaria alguma coisa a ele sem se
prevenir de que os seus recursos também não iriam acabar no ralo?
Por outro lado, a maioria dos que analisaram profundamente
o rombo fiscal grego, consideram que os E$ 130 bi não são suficientes para
eliminar o risco de quebra do país. Nesse caso, talvez o melhor seja não emprestar
nenhum centavo e deixar quebrar mesmo!
Finalmente, nos Estados Unidos, as redes varejistas entraram na onda de alterar a
própria personalidade para contornar a perda de movimento causada pela baixa do
comércio.
A Walmart está oferecendo consultas médicas a US$
50,00 (cerca de 10% do valor de mercado) e nem precisa marcar horário. Se você está
com dor de barriga, basta ir no supermercado e consultar o doutor na gôndola em
que ele atende (na verdade é um consultório, mas daí fica sem graça).
Já as
farmácias estão virando as melhores cafeterias do país, enquanto a
loja-conceito Wal-greens, de Chicago, está vendendo serviços de pedicure e
sushi-bar.
Que bagunça!
Mesmo assim, é uma estratégia que deve ser respeitada.
Muitos se queixam do pragmatismo extremo dos norte-americanos. Entretanto, em
se tratando de sobrevivência e reinvenção de si próprios, eles são insuperáveis,
pelo menos até o momento.
Provavelmente, em breve, essa novidade deverá chegar
ao Brasil.
Certos restaurantes e lanchonetes por aqui têm tudo para estar
integrados a serviços de pronto-socorro e até funerários; os cinemas de arte
poderiam alugar poltronas bem reclináveis para facilitar o sono; os
aeroportos fariam o maior sucesso arrendando barracas-motéis (lembra do relaxa e goza da ex-ministra do turismo e atual senadora Marta Suplicy?)... e assim por diante.
Enfim, com o final do carnaval, chegou a hora de
arregaçar as mangas e tocar a vida até o próximo ano.
Felicidades a todos!
Até Breve
Eduardo Starosta