domingo, 30 de novembro de 2014


O Achaque na Sua Garagem

É fácil ser economista, restringindo-se apenas a interpretar os números do mercado, tipo “o dólar subiu; a bolsa caiu; a inflação aumentou; e o dinheiro no bolso sumiu”.

O grande desafio da profissão é o de identificar e aprender a funcionalidade da rede de causas e efeitos que geram os resultados finais.

Logico que nesse processo existem aleatoriedades. Por exemplo, ninguém conseguiria prever os efeitos catastróficos da estiagem em São Paulo, antes que a situação se tornasse praticamente irreversível.

Por outro lado, ao longo dos séculos, a pesquisa econômica evoluiu ao ponto de conseguir mapear vários tipos de interferência dos governos no funcionamento do mercado e suas consequências.

Veja bem: o nosso país tem uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo. Perto de 40% do que se produz acaba nos cofres públicos, ao invés de ser gasto ou investido por quem gera a riqueza. Esses recursos servem para bancar o funcionamento da máquina estatal, retornando aos cidadãos na forma de relevantes serviços de saúde, infraestrutura, segurança, educação e por aí a fora.

Não sei se você está satisfeito com tais serviços, mas o fato é que os citados 40% de impostos sobre a riqueza nacional já não estão dando conta de pagar as despesas, provocando a tal da crise fiscal. Para equilibrar o problema no curto prazo há duas soluções: cortar gastos; ou aumentar ainda mais os impostos.
Adivinhe o que está acontecendo? Tá difícil? Então, trate de preparar bolso porque aquele seu filho adotivo que mora na garagem vai dar mais despesa.

Além do retorno às alíquotas cheias de IPI para a compra de carros novos, o governo federal quer cobrar R$ 0,28 por cada litro de gasolina que você comprar e R$ 0,07 por litro de diesel.

O impacto disso no custo de vida: o brasileiro motorizado, anda em média 1.500 km por mês com seu veículo. Imaginando um consumo médio de 10 km por litro, a sua despesa anual com a CIDE (o nome do tributo) será de R$ 504. Para o governo, a arrecadação aumentaria em cerca de R$ 50 bilhões, valor aproximado ao prejuízo dos brasileiros com os achaques à Petrobrás.

A partir desses dados, você é livre para pensar...


Eduardo Starosta

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Uma Primeira Espiadela em 2015

Preocupante a mensagem escrita no último domingo pelo Primeiro Ministro Britânico, James Cameron. O texto aponta para a séria possibilidade de novo round da crise financeira global, que vem represando o crescimento da economia mundial desde 2008.

Cameron centra seus argumentos na União Europeia, destacando o elevado desemprego e perspectiva de queda de preços (deflação, que sempre resulta em recessão). Mundialmente ele cita a falta de vitalidade dos países emergentes e a instabilidade política internacional.

E o que o Brasil tem a ver com isso? Na verdade, muito, começando pelas exportações nacionais para a Zona do Euro, que devem fechar 2014 em torno de US$ 43 bilhões.

Pensando em termos globais, em 2009, por conta da crise, as vendas internacionais no planeta chegaram a cair cerca de 23%. Provavelmente, mesmo que o Premier Britânico esteja correto, a situação não deve chegar a ser tão dramática como há seis anos.

A diferença é que naqueles tempos o contexto econômico brasileiro era bem diferente do que o atual. Aparentemente, as duas locomotivas do crescimento nacional - o agronegócio e o consumo interno – estão perdendo força nesse final de 2014 e continuarão desacelerando no ano que vem se algo não for feito.

Por sorte dos produtores de commodities (como soja e carne), a recente desvalorização do real está revertendo parte das perdas impostas pela queda de preço no mercado internacional.

Quanto ao consumo, a recente alta de juros é realmente prejudicial ao varejo. Mas ainda há tempo de políticas públicas tentarem salvar o ano que vem. Nesse ponto se inclui a possibilidade de renegociação de dívidas em cartões de crédito e cheques especiais, de forma a aliviar – de maneira didática, é claro – a pressão sobre as famílias.

Lembrando novamente de Cameron, há uma lição a aprender com os europeus: desde a idade média, em tempos de crise, os habitantes do Velho Mundo se protegem dentro de suas próprias comunidades. Ou seja, se fica mais difícil gerar riqueza, é importante saber como preservá-la dentro do território.


Moral da história: em 2015 dê preferência para comprar de seu vizinho, pois o dinheiro que você gastar estará mais próximo para ser recuperado.