quarta-feira, 17 de junho de 2015

Cuidado com a Política, a Heterofobia e a Intolerância

Não dá para negar que estamos vivendo em tempos difíceis. Não se trata apenas de recessão, ou barbeiragens de gestores públicos, ou até mesmo a corrupção comprovada, envolvendo figuras públicas que não há muito tempo eram admiradas e exemplos de credibilidade.

Por incrível que pareça, isso é peixe pequeno diante da corrupção de valores atualmente em avanço no Brasil. E olha que esse não é um papo conservador; muito antes pelo contrário.

Três eventos lamentáveis ocorridos nessa semana, dois deles no Congresso Nacional, sustentam o que acabo de dizer.

Em primeiro lugar, é inacreditável que os redatores dos jornais achem natural certas ações políticas, como foi o caso do puxão de orelhas que o ex-presidente Luis Inácio da Silva deu em parlamentares do PT por eles não terem obstruído sessão da CPI da Petrobras. 

O motivo: seu amigo e diretor do Instituto Lula, Paulo Okamoto, estava sendo chamado para depor. 

Não foi surpresa que o ex-presidente mais uma vez tenha denegrido sua biografia para defender atos duvidosos de seus colaboradores mais próximos. O incrível mesmo é uma bancada inteira – que a cada dia perde mais credibilidade pública – se submeta a tal disparate... e a sessão da CPI foi mesmo obstruída. Isso é política ou cumplicidade criminosa?

No mesmo ambiente político, o deputado carioca Jean Willys divulgou a ideia de reescrever a bíblia, cortando as referências ditas homofóbicas. Ou seja, o cultuado parlamentar do PSOL propõe mexer em um texto milenar (na verdade, a Bíblia já foi algumas vezes adulterada) por uma mera preferência de como usar a genitália.

Nada contra a aceitação social de homossexuais. Isso - afora raras exceções - já foi conquistado com inegáveis méritos pelas organizações defensoras de gays e lésbicas. 

Mas entre “sair do armário” - respirando os ares da liberdade de opção sexual com dignidade – e partir para uma ofensiva hostil à cultura e crenças de outros grupos sociais há um gigantesco abismo ético. 

Tentar censurar a bíblia ou os textos de Monteiro Lobato, Jorge Amado e outros, por retratarem crenças ou contextos literários, representa um cerceamento de liberdade até mais grave do que discriminar homossexuais. 

Mais grave porque esse grupo que já experimentou o dissabor da discriminação está confiando em líderes que aparentemente desejam saborear a vingança através de pessoas que preservam os hábitos defendidos pelos antigos repressores. 

Ser contra, ou se enojar, com práticas afetivas entre pessoas do mesmo sexo não pode ser confundido com reprimir criminosamente a liberdade do próximo. Mas é exatamente isso o que está ocorrendo. 

Será que estão querendo encarcerar mulher que gosta de homem e homem que gosta de mulher nos armários que vagaram, antes ocupados por homossexuais? Aparentemente, estamos diante de uma onda heterofóbica... 

Finalmente, saindo do contexto parlamentar, dia desses no Rio de Janeiro, alguns evangélicos fundamentalistas resolveram apedrejar uma menina de 11 anos, por ela estar saindo de um culto de Candomblé. 

Em poucas palavras, a intolerância contra uma das mais belas e puras construções religiosas e culturais do nosso Brasil, acabou esburacando a cabeça de uma criança, simplesmente por ela encontrar sentido em cultuar orixás que representam nada mais do que as forças da natureza e a ética. E até onde se sabe, a orientação mais fundamental do grande mentor dos agressores é um singelo e universal “Amai-vos uns aos outros”. Dá para entender?

Sim, dá para entender!

Os três fatos mencionados retratam o desvirtuamento dos líderes do país em relação aos seus próprios propósitos:

- O ex-presidente, cuja grande empatia com a população poderia conduzir o Brasil a dias bem melhores que os atuais, assumiu o papel de obstrutor da justiça e da verdade;

- O parlamentar que construiu sua fama declarando-se homossexual em programa de confinamento da Rede Globo, joga o discurso da liberdade no lixo ao buscar calar quem ou o que confronte os seus ideais;

- E os religiosos que deveriam estar buscando a paz de espírito – muito provavelmente sob influência de algum pastor de ocasião – preferem agredir pessoas que buscam outras formas de buscar a divindade.

Ou seja, comprovadamente, a população brasileira está dando ouvidos demais a pessoas “demenos”, que desvirtuam ideias e crenças para dar vazão às suas próprias perversões.

É isso o que está afundando o país. Mensalões, petrolões e outros atos e fatos que nos envergonham são a mera consequência de confiar em pessoas erradas... maldosamente erradas.

Eduardo Starosta 

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Heresias Hereges


Lá nos templos da velha Bíblia,
Havia um Rei chamado Salomão,
Mulherengo e sabichão,
Sua alteza era bom para dar perdão.

Mas um dia ele acordou de corno virado,
Tudo por causa da sua ruiva preferida do harém,
Que nos malabarismos do leito não quis ir ao além,
Deixando Sua Majestade bem pirado.

E logo na primeira audiência da manhã,
Teve de encarar duas senhoras brigando com afã,
O problema estava na disputa por maternidade,
Estava em jogo, um varão de pouca idade;

Irritado com o barraco das tagarelas,
Salomão queria é botar sebo nas canelas,
Mas lembrando que lá no harém estava frito,
Suspirou fundo e deu se veredito.

Chamem o carrasco de nome Tovar,
Para dividir o menino em duas metades,
E elas que escolham de acordo com suas vontades,
Qual parte do moleque cada uma irá levar.

Uma preferiu a parte de cima,
A outra se contentou com o pedaço de baixo,
E o pobre menino, sem entender o motivo,
Se enxergou pela primeira e última vez dividido.

O corpo partido,
Foi por ambas as mulheres bem vestido,
Cada qual mostrando sua parte da sorte,
Fingindo em vão não terem causado uma morte.

Milênios se passaram,
E tal história foi redescoberta,
Traduzida para o português,
O relato logo teve freguês.

Inspirado no sábio Salomão,
E sua libido gigante,
Novos governantes,
Usaram o exemplo para fazer gestão.

Pegaram o grande manual de administração,
Usado com zelo por qualquer nação,
E promoveram uma grande esculhambação,
Que durante muitos anos todos se lembrarão.

A parte de cima do livro dizia como do povo cobrar,
E a parte de baixo ensinava como com o povo gastar,
A primeira metade foi prestigiada e aperfeiçoada,
E a segunda, coitada, acabou amputada e adulterada.

Ganharam fortunas aos borbotões,
Nesse ponto chegaram a ser campeões,
Mas no que se refere aos contribuintes apoiar,
Simplesmente, mandaram todos eles pastar.

A hemorragia se instalou,
A parte de cima tudo arrecadava,
E a metade de baixo
Não conseguia repor a energia do que lhe era tirada

E no meio do corpo divido,
O sangue se perdia em caminhos sem sentido,
Assim a base foi morrendo,
O topo nem reparava que por conta disso também a vida ia perdendo.

Mas o dia fatídico chegou,
Quem faz, quem produz e quem trabalha minguou,
Logo os governantes também ficaram sem energia,
E assim acabou-se a história da orgia.

Governo e povo mortos sem enterrar
Na paisagem só se via
Os últimos rapineiros a devorar
O resto da carne podre que fedia.

Na história original escrita,
O ato de Salomão, a morte da criança evita,
E no caso da Nação,
Será que há solução?


Eduardo Starosta

sexta-feira, 5 de junho de 2015

As Mentiras Sinceras

Há exatamente um ano o Brasil estava às vésperas de sediar o maior evento esportivo do planeta a cada quatro anos. E com a aproximação da Copa do Mundo, nosso país se envergonhava diante do mundo pelo atraso das obras, ficando fora do chamado “padrão FIFA”.
Se fosse hoje, falar a alguém que ele (ou ela) está dentro do padrão FIFA é pedir para levar bofetada. Simplesmente o que virou sinônimo de seriedade, organização e solidez institucional passou, da noite para o dia, a significar bagunça e roubalheira.
É claro que a entidade maior do futebol já era uma zona há vários anos. Mas a máscara de seriedade funcionava pois, cinicamente as pessoas envolvidas queriam acreditar nisso, ou simplesmente lhes era conveniente tal situação (ou inconveniente denunciar).
Continuando o raciocínio, esse tipo de desmonte súbito e constrangedor de padrões e verdades não é nenhuma raridade na história dos humanos.
- Centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo preferiram acreditar no dinheiro fácil como modo de vida e perderam boa parte de suas riquezas na crise financeira de 2008;
- Alguém se lembra de uma pulseirinha australiana milagrosa (coisa de 5 ou 6 anos atrás)? Quem a usava ficava com mais energia e coisa e tal. No momento em que a indústria que a produzia falou que tais benefícios eram lorota, quantas pessoas não trataram de arrancar o mimo milagroso do corpo para não passar por idiota. Tenho um conhecido que revendia essas pulseiras no Brasil. Ele tá dando risada até hoje!
Em todos esses casos, indícios, evidências e até o senso de ridículo deixavam claro que pessoas estavam sendo enganadas, ludibriadas, passadas para trás.
Mas tem vezes que as mentiras são tão gostosas de se acreditar, que saber a verdade faz com que parte da vida fique sem graça. Quem não gostaria de usar um penduricalho no pulso que fornecesse superpoderes? E ganhar dinheiro só pedindo dinheiro emprestado, então; tem vagabundagem mais gostosa que essa?
Pois bem, o passado é passado. É mais fácil esquecê-lo para não passar vergonha.
Por outro lado, será que no presente não há algumas “mentiras sinceras” nas quais preferimos acreditar e que depois vão nos dar grandes dores de cabeça?
Tenha a certeza de que a reposta é sim!
Na verdade, o Brasil de 2015 está pagando o preço de mentiras e acobertamentos de nossa história recente:
Lamentavelmente, programas como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, dentre outros, foram feitos sem sustentabilidade econômica. E chega o momento em que as pessoas que realmente geram renda, esgotam a capacidade (e a paciência!) de serem mais e mais tributados. E olha que nem entramos nos casos de corrupção...
O fato é que mesmo já sendo reconhecida, a crise atual é mais séria do que está aparentando. Definitivamente, não se trata de uma simples recessãozinha que vai ser superada no próximo semestre. Essa é só mais uma “mentira sincera”.
E pela tradição, quando a sociedade brasileira se der conta do buraco em que se meteu, só restará a vergonha, as grades das casas e o bolso vazio. Ah, e claro, alguém com bom senso de oportunidade e cara de bonzinho que baterá no próprio peito, afirmando ter a solução moral...
Daí, recomeçará o ciclo das mentiras sinceras.
Até quando?
Eduardo Starosta

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Lembrando dos Tempos de Guerra

Se estamos alarmados com o desenrolar da atual crise política e econômica brasileira – causada pela incompetência dos gestores públicos – um rápido olhar no panorama internacional pode nos deixar em pânico.

O jornal estatal chinês, Global Times, discorreu nessa semana, em editorial, a respeito das crescentes chances de uma guerra entre China e Estados Unidos por conta de desavenças nas águas internacionais do Pacífico.

O fato é que os chineses estão construindo ilhas artificiais de forma a ampliar seu alcance territorial. Os norte-americanos não estão gostando desse expansionismo e mandam seus aviões-espiões para verificar o andamento das obras de infraestrutura dessas novas possessões.

A citada nação oriental, com uma população superando a casa dos 1,3 bilhão de habitantes, detém um território vasto, mas majoritariamente problemático para a vida humana sustentável. 

O expansionismo chinês já é conhecido há décadas (e em uma visão histórica mais ampla, há milênios), sendo pauta permanente de preocupação dos governos do Japão e Coréia do Sul.

Mas essa história tem ainda mais uma faceta: o milagre econômico que levou a China rapidamente ao posto de segunda potência mundial pode estar prestes a desabar. A dívida do país já chega a 280% do PIB nacional e caminha rapidamente para o patamar dos 400%. Isso deixa evidente que o setor bancário chinês está assumindo cada vez maior alavancagem (= empréstimos com menor lastro), o que repete a situação que gerou a crise financeira global em 2008. 

E isso está acontecendo bem no momento em que o Partido Comunista (ironicamente “dono da economia de mercado”) encaminha a mudança do padrão do desenvolvimento nacional, que deixaria de priorizar as exportações em favor do mercado interno.

A frustração tende a ser grande e nesses casos, a história mostra que a solução política dos ditadores é atribuir as culpas a algum inimigo externo. Um eventual embate de forças entre os chineses (com provável apoio da Rússia) e norte-americano (junto com OTAN) terá um desfecho incerto, mas trará traumas e danos irreparáveis à humanidade e ao planeta.

O contexto lembra muito as condições objetivas que deflagraram a I Guerra Mundial: a Alemanha emergente e competitiva enfrentava  boicotes aos seus produtos por parte dos outros países europeus e suas colônias. A luta armada encerrou com a derrota dos germânicos, oficializada na assinatura do Tratado de Versalhes, o qual impunha uma situação de miséria aos alemães. 

Tal burrada política pavimentou a ascensão do nazismo e suas barbáries. Daí veio a II Guerra e mais milhões de mortos.

A sabedoria da política externa dos Estados Unidos na época foi, através do Plano Marshall, viabilizar a construção de sociedades ricas no Japão e Alemanha, transformando os antigos inimigos em amigos incondicionais.

Nessa ótica, talvez seja melhor para todos, a revisão do posicionamento das relações sino-americanas dentro do contexto global. Por exemplo, permitir que o Yuan (moeda chinesa) entre para a cesta de moedas do FMI, podendo ser internacionalmente negociada, aliviaria completamente as pressões financeiras chinesas nos próximos anos e, consequentemente, garantiria a paz e a oportunidade de gradativa democratização da China.

A alternativa a esse desfecho seria assistir à implosão da economia chinesa, o que traria a guerra e o flagelo de todos nós.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O País do Pendura

A situação está ficando para lá de danada nesse nosso país. 

Relatório divulgado essa semana pela Serasa-Experian aponta que 54,3% das empresas brasileiras estão com pelo menos uma dívida em atraso. O valor total da inadimplência das pessoas jurídicas chega a R$ 86,4 bilhões.

Para colocar em números mais palpáveis, esse valor corresponde a cerca de 18,8% de tudo o que o Brasil produz em um mês. Outra relação esclarecedora: cada empresa inadimplente, está, em média, “pendurado” com R$ 22,8 mil.

É claro que essa situação que afeta o ambiente nacional de negócios está ligada a dois fatores principais: atraso de pagamento das pessoas físicas e estoques parados de mercadorias e insumos comprados e não revendidos.

O grande problema é que em realidades como essa há grandes chances de se gerar um efeito em cadeia de proporções desastrosas para todos. 

Obviamente, quem não recebe seus créditos fica com menos dinheiro para honrar as contas a pagar e frequentemente acaba também entrando para o clube dos devedores.

Paralelamente a isso temos os entraves do setor público aumentando juros, subindo impostos e atrasando o pagamento de vários fornecedores privados.

Pegue todos esses ingredientes, enfie-os em uma panela quente, mexa uns 10 segundos e dê o fora: a explosão será grande e muito malcheirosa. E ao contrário do que os governos desejam, a primeira vítima da falta de dinheiro serão os impostos...

Ainda é prematuro para se afirmar categoricamente que a situação da inadimplência está fora de controle. Mas não há dúvidas de que o caminho atual nos conduz a tal destino.

Em situações como essa, qualquer solução passa, obrigatoriamente, pela geração de renda nova. Ou seja, as pressões implementadas (alta de juros e impostos) pelas autoridades econômicas aos consumidores e empresas com o objetivo de conter a inflação devem ser desmobilizadas no menor prazo possível, sob pena de crescente risco de um efeito em cadeia catastrófico de não pagamentos. 

Caso as ações estratégicas propostas pelo ministro Levy, da Fazenda, sejam realmente implementadas e o governo federal deixe de gastar R$ 80 bilhões em 2015, poderá ser dado um importante passo para a desoneração da sociedade junto ao fisco e os bancos. 

Em outras palavras, a hora é de injetar renda para reverter o pendura geral no qual se transformou as relações econômicas no Brasil.

A alternativa a esse cenário é o aprofundamento recessivo e o desabastecimento. 

Daí é que poderemos ter uma amostra do que os venezuelanos estão vivendo na atualidade.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Quando Reformas não Adiantam Mais

Sempre quando as coisas vão mal no Brasil ouvimos falar da necessidade de se fazer reformas: reforma fiscal, reforma política, reforma administrativa, reforma o escambau e por aí afora.
Depois que a crise passa, a conversa vai ficando aos poucos de lado e o que resta é mais um aumento de impostos absorvido pelos gestores públicos e que vai saciar a fome da máquina estatal por algum tempo (não muito!), até que surgirá nova pressão por aumento de gastos... e ferro nos impostos!
Então, caro leitor, se você começar a ouvir os políticos falarem em reformas, assuste-se; pois é o seu bolso que será “reformado” com mais furos.
Paralelamente a isso, o FMI sugere que para conter a inflação, o Brasil terá de subir os juros ainda mais. Não que os economistas do Fundo estejam errados. Lamentavelmente eles estão tecnicamente certos.
Entretanto, foi esquecido um componente importante que diferencia o Brasil do resto do mundo: depois de eventualmente debelada a inflação, a sua causa – a emissão monetária – volta a ser explorada pelo governo, na busca de mais e mais dinheiro.
Em outras palavras, subir juros e aumentar impostos aqui pelas terras tupiniquins só significa transferir renda de quem produz e trabalha para as mãos dos administradores públicos que – com raras exceções – não sabem como usar dinheiro.
É triste, mas as tais reformas nada mais são do que sangrias que só acabarão quando o estoque de sangue da sociedade secar. É vampirismo puro!
Quem tem ou teve casa velha sabe que chega um momento em que é mais racional e barato botar tudo abaixo e fazer uma nova construção; reformar seria apenas colocar dinheiro bom em alicerces podres.
Pode ser ousado, mas o Brasil do futuro só dará certo na medida em que nos convençamos a destruir o prédio que representa o Brasil do presente. Ou será que deveríamos insistir em botar para funcionar algo que nunca correspondeu às expectativas?
Sejamos realistas: um país onde os juros, impostos e inflação sobem, ao mesmo tempo em que a produção e o emprego caem de forma aguda, sofre do que os médicos chamariam de falência múltipla dos órgãos. Isso é sinônimo de morte clínica.
O mais inteligente, então, seria aproveitar o tempo que resta de relativa estabilidade social e demolir o Estado brasileiro de forma serena e planejada, tendo pelo menos algumas poucas diretrizes claras do que se quer para o futuro e de como deveríamos ser governados.
Isso serviria de base para uma nova Constituição. Quanto menos artigos, tanto melhor. O fundamental é que o texto constitucional seja claro, conciso e sem penduricalhos e armadilhas orçamentárias.
A alternativa a isso é a Casa Brasil ruir sobre nossas cabeças. Daí, de nada adiantará governar o ingovernável.
Utopia? Então, responda a três perguntinhas:
1) Você aceita pagar mais impostos?
2) Você respeita os seus governantes?
3) Você tem a percepção de que a sua vida está segura?
Eduardo Starosta

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O Colapso da Verborreia

Verborreia é uma palavra pouco usada. Mas quem a ouvir ou ler, mais ou menos saberá o seu significado: falar, discursar e discutir exaustivamente sem qualquer senso de consequência e conteúdo sobre o que, como e em que contexto as coisas são ditas.

Pois bem, se o Brasil pode ter a honra de se orgulhar de muitos de seus poetas e escritores, por outro lado, a paixão de nossa elite pelo uso das palavras acabou gerando uma série de besteiras e inconsequências.
Lamentavelmente, boa parte de tais babaquices moram dentro de nosso texto constitucional.

Quando foi feita a Carta Magna de 1988, a maior parte dos congressistas estava fortemente influenciada emocionalmente pela contraposição aos tempos da ditadura. Equivocadamente, isso descambou para uma Constituição que buscava proteger o povo através da força do Estado, aprovando-se uma série de aparentes benefícios, mas sem sustentação orçamentária.

Por conta disso, a inflação da época se acelerou ainda mais; e quando os preços foram estabilizados pelo Plano Real, o financiamento das despesas exageradas convergiu para o aumento da carga tributária que partiu de cerca de 23,5% do PIB em 1995, para patamares próximos de 40% na atualidade.

E nesse período de 2 décadas, afora raras exceções, o que se assistiu nos Três Poderes foi uma sucessão de mandos e desmandos justificados pela plástica das palavras e não por sua real consequência estrutural no desenvolvimento da sociedade. Ou seja, a verborreia criou uma série de benefícios a segmentos eleitorais expressivos que não tinham sustentabilidade pela geração de renda do setor produtivo.

No frigir dos ovos, mesmo com o papo de responsabilidade fiscal, o que encontramos hoje é a União, praticamente todos os Estados e a maioria dos municípios, em situação falimentar, sem ter de onde tirar mais dinheiro. Como Dilma e Levy verão logo adiante, chegamos a um ponto no qual aumentar ainda mais os impostos não vai gerar caixa de arrecadação, pois a base tributária cairá mais do que a repercussão das novas alíquotas.

Especificamente para a União a situação fica um pouco mais fácil com a inflação elevada (o chamado imposto inflacionário), mas isso vai deixar a população ainda mais revoltada.

Na prática, o que se vê é que não há mais saída. A redução da despesa pública é a única forma de reconquistar o equilíbrio fiscal do país (estados e municípios também) e isso fatalmente descamba para o corte de custeios sem sustentabilidade.

A mexida no seguro-desemprego; diminuição de subsídio no financiamento habitacional; redução da proteção trabalhista, dentre outros itens – doa a quem doer – fazem parte de um processo de descontaminação das décadas de verborreia.

Como tais iniciativas tiveram que, forçosamente, partir do governo federal, não se tira a razão da oposição em argumentar a existência do tal do estelionato eleitoral.

Por outro lado, é incabível que essa mesma oposição – que vem apregoando nos últimos anos o discurso da responsabilidade fiscal – se coloque radicalmente contra tais ajustes, por uma questão de revanchismo, especialmente porque se eles estivessem no governo, estariam propondo ações iguais ou similares.

Ou seja, a verborreia está mudando de lado. E se essa prática não entrar logo em colapso, as figuras públicas terão de morder as próprias línguas; e o resto da sociedade entrará em uma crise sem precedentes.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Se Eu Fosse Você

 O título desse artigo copia o nome de filme brasileiro que fez muito sucesso há alguns anos. A trama foi montada ao redor de um casal com problemas de relacionamentos no dia a dia, que por uma conjunção de forças malucas acabam trocando de corpo: o espírito do marido passa a residir no corpo da esposa e vice-versa.

A ideia da comédia é bem divertida. E se imaginássemos que a tal mágica funciona e desejássemos estar no corpo da pessoa mais poderosa do Brasil? Calma, você não se transformará na presidente Dilma Rousseff. Mas assuste-se, você estará dentro do ministro da fazenda, Joaquim Levy.

E já que estamos encarnados no corpinho desse engenheiro e economista carioca, talvez seja interessante ter consciência de como ele chegou ao topo do ranking dos poderosos. Vamos voltar um pouco no tempo...

Lá em 2013, o então ministro da fazenda Guido Mantega fez uma previsão bem legal: o PIB de 2014 iria subir e a arrecadação federal aumentaria 3%. Em ano eleitoral, é óbvio que os gastadores de plantão logo empenharam o dinheiro que deveria entrar adicionalmente.

O problema é que a profecia de Mantega estava completamente furada e a arrecadação simplesmente ficou estagnada. Mas cortar despesa de governo, especialmente às vésperas de uma eleição, não é nada fácil.

Como resultado da trapalhada, o orçamento da União explodiu e o Brasil entrou na atual crise. Daí o Levy, que já tinha servido os governos de FHC e Lula, foi tirado da tranquilidade de seu emprego na área de gestão de ativos do Bradesco, recebendo a missão – no ministério da fazenda – de limpar a caca do seu antecessor.

Junto com o rombo do orçamento, o novo ministro está tendo que lidar com inflação alta, dólar baixo (ainda!) e uma atividade econômica em pandarecos. Êta encrenca da boa!

A missão é arrumar toda a bagunça a tempo de que o governo tenha alguma chance de vitória nas próximas eleições presidenciais.

Para isso, o remédio mais conhecido e dolorido é aumentar juros e impostos. Claro que isso prejudica ainda mais quem produz, trabalha e consome. Mas ninguém ainda provou que Fernando Collor estava errado ao dizer que o povo não tem memória.

Ou seja, “as maldades” podem continuar até meados de 2017. Daí, voltar a crescer ficará fácil, diante dos escombros de uma base comparativa deprimida.
Nos últimos dias, Levy colocou seu dedo na nova alta de juros e na piora das condições do programa Minha Casa, Minha Vida. Ele até pode ser, pessoalmente, um bom sujeito. Mas está assumindo o papel de algoz do povo, com o objetivo de agradar os investidores em títulos públicos do Brasil.

Sim, existem outros caminhos possíveis para consertar o problema de caixa do governo brasileiro: basta reduzir a despesa pública de forma significativa, o que seria missão do ministro do planejamento, Nelson Barbosa. Entretanto, isso detonaria com os interesses dos partidos políticos que ainda apoiam o governo...

Resultado, o ser mais poderoso do Brasil assumiu tal posto com a maldição de ser odiado. É um lugar evidentemente ruim para se estar. Então vamos parar com a brincadeira e deixar o espírito do Levy cuidar do próprio corpo e voltar para o nosso, encerrando essa experiência do “se eu fosse você”.

Talvez em uma próxima oportunidade poderíamos virar o Deputado Tiririca. Iria ser bem mais divertido...

Eduardo Starosta

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Coisa para Brasileiro Ver

       O escândalo dos bingos, o mensalão, o achaque à Petrobrás e outras coisas que ainda vamos descobrir têm características flagrantemente comuns: todos os esquemas serviram para alimentar ilegalmente o caixa dos partidos e aliados do governo.

Lógico que de lambuja um monte de gente acabou enriquecendo com a bagunça e são esses os que ganham os destaques nos meios de comunicação. Mas não se pode esquecer de que tudo isso não passou de corrupção de origem partidária.

Repeti o que está escrito no primeiro parágrafo? Então tome mais um repeteco; e agora silábico: a corrupção é, acima de tudo, PAR-TI-DÁ-RIA.

Esse é o pior dos mundos que poderíamos imaginar para o amadurecimento político do Brasil.

A situação em foco é um dos mais graves crimes contra a humanidade. Na medida em que o roubo tem objetivo político, estamos falando do aliciamento de consciências, o que detona com qualquer perspectiva de futuro realmente mais próspero.

Campanhas eleitorais com os melhores marqueteiros; festas políticas regadas com às melhores bebidas, comidas e espetáculos musicais; carros de som azucrinando nossos ouvidos no domingo pela manhã; pobres coitados vivendo às custas do cachê de participação em passeatas e atos políticos. Tudo isso e muito mais existe porque a corrupção partidária tomou conta do dia a dia do país.

Por enquanto, os principais punidos no caso da Petrobrás são os executivos e empresários. Mas será que eles são os maiores culpados? O que aconteceria, por exemplo, com a empreiteira que se negasse a pagar propina? Aposto que quebraria em pouco tempo, sendo alijada de qualquer obra pública. Analisemos individualmente com sinceridade: será que recusaríamos “pagar o cafezinho” aos representantes do poder, caso isso significasse perder o emprego, a empresa, ou ter o bloqueio ao acesso de importantes serviços?

Enquanto nos degladiamos com tais inquietações conflituosas entre a consciência e a prática da vida, os verdadeiros corruptos (e corruptores!) que se escondem em siglas partidárias serão premiados com a triplicação da mesada, expressos em R$ 865 milhões.

Isso parece um acerto de contas dos mais escabrosos:

- Olha, você deixa de roubar, que em troca eu lhe pago diretamente os seus ganhos por achacar a Petrobrás e outras estatais e repartições públicas...

Nessa lógica, que tal pagar aos traficantes, assaltantes e outros da turminha, para que eles deixem de “trabalhar”? Por mais ridículo que isso seja, é apenas detalhe a diferença em relação ao que foi feito com o Fundo Partidário.

Os veículos de comunicação mais otimistas falam que o brasileiro esgotou sua tolerância com a corrupção.

Caso a pressão popular não reverta a sanção da presidência da república relacionada ao Fundo Partidário, toda essa intolerância contra o desvio do dinheiro do povo é só desabafo estéril, coisa para inglês, digo, brasileiro ver.



Eduardo Starosta

quinta-feira, 16 de abril de 2015

A Lorota da Crise Mundial no Brasil

Nessa semana as autoridades econômicas brasileiras finalmente assumiram publicamente que o PIB de nosso país (toda a riqueza gerada) deverá cair em torno de 1% em 2015 e a inflação tenderá a passar de 8%.

Apesar desses dados não serem nada agradáveis de se encarar, o consolo é que as pessoas que estão administrando a economia nacional começam a falar com mais realismo e sinceridade.

Esse é o primeiro passo para se corrigir os erros do passado. E é nesse ponto que reside o maior problema mental dos nossos governantes. Eles ainda são incapazes de encarar publicamente seus próprios erros, delegando responsabilidades para qualquer coisa que não sejam eles próprios.

Ora, qualquer pessoa com informação mediana e sem preconceito de pensamento sabe que a encrenca econômica atual é fruto direto da má condução da administração pública. Mas o governante que admite isso dentro da própria gestão está assumindo a própria incompetência... e daí, adeus carreira política!

Fica mais fácil, então, culpar algo sem corpo e personalidade, como a tal da crise mundial.

Se isso fosse verdade, seria correto admitir que o desempenho econômico do globo deve estar tão ruim ou pior de que a performance brasileira. Mas não é o que ocorre: segundo o FMI, em 2015 a riqueza mundial tenderá a aumentar 3,45%, com os países ricos crescendo 2,4% e os países emergentes (grupo no qual o Brasil teoricamente é incluído) registrando alta de 4,26%.

Com tais informações, é claro que a culpa da retração econômica do Brasil de 1% não é do que ocorre além das nossas fronteiras.

Mas e se um enrolador metido a esperto levantar o argumento de que estamos pagando hoje o preço dos problemas mundiais gerados pela crise financeira global iniciada em outubro de 2008?

Além de ser mentira - pois o Brasil nunca manteve muita relação financeira com o mundo exterior - podemos desfazer essa lorota usando dados muito simples: entre 2009 e 2014 o PIB mundial cresceu 21,2% e o nosso país ficou nos modestos 16,8%.

Voltando para as perspectivas de 2015, é triste ver que das 188 nações analisadas pelo FMI, o Brasil ficará na 179ª posição do crescimento global. De países conhecido, pior do que o nosso só ficarão “os colegas” Rússia, Ucrânia, Venezuela e Iêmen, os quais – além de serem dependentes do petróleo – também construíram a triste tradição de governos bagunçados e sem gestão séria.

Sintetizando, o mundo não tem culpa das nossas mazelas. O recomendável é reconhecer que o principal problema estrutural do Brasil se divide em duas partes: a primeira são os representantes da população em cargos eletivos; e a segunda são os próprios eleitores que escolhem pessoas sem senso.

Um dia aprenderemos...

Eduardo Starosta

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Dinheiro x Qualidade na Educação

Não sei como funciona em outras ciências, mas em economia, ao elaborarmos uma tese ou pensamento, devemos obrigatoriamente olhar para o mundo real para ver se a ideia é condizente com o que efetivamente acontece. Caso não haja conexão, tudo não passa de um devaneio.

A partir desse modo um tanto quanto cético de encarar as informações abstratas, pareceu bastante estranha a comemorada notícia veiculada nessa semana de que o Brasil seria um dos países com maior participação dos gastos com educação em relação ao PIB.

De acordo com matéria veiculada na Folha de São Paulo, o investimento público na área educacional corresponde a 6,6% do Produto Interno Bruto do País. Isso significa algo em torno de R$ 360 bilhões por ano, ou cerca de R$ 6.200,00 por aluno. Sem dúvida estamos diante de um orçamento respeitável. E em tempos de turbulência política e econômica, esse dado foi festejado pelo governo federal como uma grande vitória em termos de eficiência de gestão.

Mas lembremos que gastar dinheiro é uma das coisas mais fáceis do mundo. Já para gastar bem, o grau de dificuldade aumenta consideravelmente, exigindo ao menos um razoável nível de competência.

E esse lado da questão não tardou a jogar um balde de água fria na festinha do Planalto.

Lá na virada do milênio, em 2000, a UNESCO lançou uma agenda com 6 objetivos educacionais para serem alcançados por 164 países até 2015. O Brasil, com seu comemorado orçamento para a educação conseguiu cumprir apenas 2 itens da meta: universalização da educação primária (1º ao 5º ano); e igualdade de participação masculina e feminina em sala de aula.

Fazer isso significa literalmente mandar a molecada para a escola. Deve-se delegar boa parte do sucesso dessa meta ao criador do Bolsa-Escola, o senador brasiliense, Cristovam Buarque, quando ainda governava o Distrito Federal. Depois esse programa acabou descambando para o Bolsa-Família.

Mas e com relação às outras 4 metas da UNESCO? Levamos bomba em todas: as pré-escolas não evoluíram como deveriam (para crianças de 0 a 5 anos); os níveis de conclusão do ensino médio estão bem abaixo do desejável; o percentual de adultos analfabetos continua elevado; e finalmente, não houve o progresso mínimo necessário na qualidade da educação.

Nem vamos mexer agora na questão do sucateamento das universidades federais (fora da agenda da UNESCO).

O fato é que o poder público federal teve 15 anos para cumprir metas não tão ambiciosas, especialmente pelo volume de orçamento dedicado à educação.

Lembra-se que o desenvolvimento verdadeiro de qualquer país está intimamente ligado à produtividade do seu povo. Por sua vez a produtividade, nada mais é do que conhecimento aplicado ao dia a dia do trabalho.

A conclusão de tudo isso é simples: as autoridades educacionais brasileiras têm o dinheiro para fazer um bom trabalho; só que uma estrutura burocrática paquidérmica e cheia de vieses ideológicos acaba impedindo a concretização de resultados minimamente razoáveis.

Boa sorte ao novo ministro da educação, Renato Janine Ribeiro.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A Visão Política e Econômica das Galinhas

Estudo divulgado pela faculdade de medicina de Washington comprova que as galinhas enxergam melhor que os seres humanos. Trocando em miúdos (não de frango, é claro!) isso pode significar que temos algo a aprender com as penosas.

Também foi comprovado que os animais não-humanos têm linguagem própria, entendendo-se, portanto, na comunicação. Provavelmente, os cachorros falam uma língua derivada do Latim e a linguística galinácea tem suas origens no idioma galês, de raiz celta.

Sendo assim, o cacarejar generalizado é sinal que o debate entre as aves está permanentemente em alta.

Mas sobre o que elas conversam? Pois bem, com a mania dos granjeiros de forrar os galinheiros com jornais, evidentemente as aves alfabetizadas devem fazer a maior algazarra com as notícias que por elas são pisoteadas.

Duas frangas comadres (na verdade todas as galinhas são comadres umas das outras) fizeram uma pausa entre as ciscadas e as chocagens e resolveram trocar prosa.

- Comadre, a notícia aqui tá dizendo que os impostos subiram.

- Xi, será que é por isso que o Seu Onofre diminuiu o milho do galinheiro?

- Pode ser. Mas aqui tá dizendo que esse tal de imposto subiu porque o governo gastou demais e ficou devendo.

- Espera um pouco: porque eles gastaram mais do que deviam nós é que temos que apertar as penas e emagrecer? Isso não tá certo! O Seu Onofre deveria reclamar com o Rei.

- Rei é coisa de história de fadas. Pelo que eu andei lendo, os chefes são escolhidos pelos granjeiros e outros tipos de humanos.

- Mas quando escolhem esses governantes, “as gentes” são a favor de aumentar os impostos para faltar milho?

- Penso que não, mas parece que sim.

- Não posso acreditar! Custo a entender como os humanos acabaram dominando tudo por aí.

- Parece que em outros lugares isso não acontece. Lembra quando fui candidata a miss? Conheci galinhas de tudo que é canto do mundo. Daí, em um certo momento esse papo de imposto também aconteceu por lá e fiquei sabendo que na maioria dos países essa história de impostos e gastos está bem resolvida. Só tive pena de uma carijó da Venezuela. Tão magrinha a coitada...

- Ora minhocas. Então é só copiar as coisas que dão certo e deixar para lá o que dá errado. A natureza sempre foi assim.

- Também acho, mas essa gente boba parece que não quer aprender o óbvio. Tá na hora da revolução das galinhas. Vamos gurias! Hora de colocar as coxinhas para funcionar.

- Estou dentro! Vamos lá. Vou reunir toda a turma e...

- Espera, espera! Olha essa notícia aqui. O filho da Gabriela Marília foi visto de beijocas com um frango. 

- Que babado! Vamos logo contar para as meninas.

- Eu vou é dar uma checada no Garni Zé. Ai dele se ele estiver se assanhando com algum galo por aí.

- Se essa moda pega, o que será de nós, galinhas? Daremos adeus às chocadeiras e ovos?

-  Nem morta querida. Vamos fundar o movimento galofóbico.

- Ih, isso vai acabar em confusão.

Foi pena para todo o lado.

E o milho foi reduzindo, reduzindo, reduzindo...

Eduardo Starosta

quinta-feira, 26 de março de 2015

De Olho nas Ruas

É impensável falar de economia sem ficar de olho nas movimentações políticas. Atualmente no Brasil essa relação é especialmente estreita e vem determinando o comportamento de diversos indicadores.

Por exemplo, as turbulências no campo da política federal (escândalo da Petrobrás, conflito Executivo x Legislativo) têm sido muito consideradas pelos investidores internacionais na hora de comprar ou vender títulos da dívida brasileira. O efeito prático disso se dá no mercado de câmbio, com o dólar dando cambalhotas para cima e para baixo, com tendência de alta.

Dois dos dados que mais refletem a realidade atual: a popularidade de Dilma Rousseff mostra amplo descontentamento da população, com 64,8% de avaliações negativas à gestão da Presidente da República; e a aprovação na Câmara dos Deputados – com 389 votos a favor – de Projeto de Lei que reduz os juros das dívidas de estados e municípios com a União, evidenciando a fragilidade do diálogo entre executivo e legislativo.

Governo impopular com desintegração política é um coquetel explosivo. Bagunça certa!

Aproveitando a ocasião, os articuladores dos protestos do último dia 15 de março, agendaram novo evento para as ruas em 12 de abril.

A citada data já pode ser considerada um momento-chave para definir o futuro político (e econômico!) do Brasil. Caso o movimento mobilize mais pessoas do que o anterior, as chances são altas de que Dilma Rousseff perca suas últimas trincheiras de comando político. Na situação contrária – ou seja, o esvaziamento dos protestos – a presidente tenderia a ter oportunidade de reconquistar liderança.

Mas para isso ela vai ter que se virar nos 30. O prazo é curto e a população é muito suscetível a mimos, bondades que aumentem o dinheiro no bolso ou potencial de consumo.

Informações, daquelas que não se divulga a fonte, dão conta que setores do governo estão se preparando para trabalhar com a eventualidade do permanente enfraquecimento político de Dilma, o que reforçaria o papel do atual vice-presidente, Michel Temer. Nessa visão, onde o PMDB assumiria, de fato, o governo federal. A primeira missão seria diminuir drasticamente o número de ministérios.

A ampulheta foi virada. Estamos em contagem regressiva.


Eduardo Starosta

quinta-feira, 19 de março de 2015

Coitadinho do Irmãozinho do José


De vez em quando me arrependo em deixar para trás meu sonho de adolescente: ser oceanólogo, viver em alto mar, com tempo de sobra para pescar.

Mas a tentativa de entender a humanidade me levou à economia e à filosofia.
Porém, há certos momentos em que penso ter perdido tempo na leitura de milhares de páginas de teorias, análises, e outros textos de formação profissional.

Afinal, certezas lógicas estão ficando de pernas para o ar. Vamos analisar alguns casos:

Economia- Dizem que os juros devem subir se a pressão de consumo leva ao aumento da inflação. Mas que pressão de consumo é essa? As vendas estão caindo e o desemprego disparando. Aumentar juros nesse contexto é a certeza de aprofundamento recessivo (melhor cortar despesa pública);

Estatística - O Datafolha estimou que na passeata do último domingo na Av. Paulista (São Paulo) estiveram cerca de 200 mil manifestantes. A polícia falou em um milhão de pessoas. O normal seria o contrário: os aparatos de segurança forçando a barra para diminuir a importância do protesto, enquanto a imprensa (o Datafolha é da Folha de São Paulo) divulgaria os números mais sensacionais. De quem foi o erro grosseiro?

Política 1 – Em torno de 1% da população brasileira deixou a preguiça do domingo para reclamar do governo nas manifestações. Diante de tal proeza só superada pela campanha das Diretas Já e das Paradas do Orgulho Gay, Miguel Rosseto – Secretário Geral de Governo – alertou na TV que o protesto era de quem se opunha ao governo. Peraí: existe algum caso de gente que é a favor do governo se manifestar contra esse mesmo governo?

Política 2 – E no Congresso Nacional aprovaram a triplicação do Fundo Partidário, que vai a quase R$ 900 milhões por ano. Se os parlamentares querem provocar ainda mais a população, não seria mais fácil e menos custoso cada um colar nos seus próprios fundilhos uma tabuleta do tipo “ME CHUTE!”?

Direito – E finalmente, tive que ouvir meu irmão, José, professoralmente argumentar que os juízes são responsáveis pelos autos dos processos. Isso forneceu a base legal para que o célebre magistrado Flávio Roberto de Souza pudesse dirigir os AUTOmóveis apreendidos de Eike Batista.

Chega por hoje.

Fui!!!

Eduardo Starosta

quinta-feira, 12 de março de 2015

Pare de Pagar Juros

Saiu essa semana pesquisa da ANEFAC (Associação Nacional dos Executivos em Finanças) e os resultados são lamentavelmente espantosos.
Em fevereiro, os juros médios do rotativo do cartão de crédito aumentaram para 11,67% ao mês e do cheque especial chegou a 9,44%.
Se você fica devendo R$ 1.000,00 no cartão e “esquece de pagar”, depois de um ano a dívida chegará a R$ 3.760,44 (sem multas). No caso do cheque o valor a pagar ficará em R$ 2.951,98.
A última vez que o consumidor brasileiro esteve sujeito a juros tão elevados foi em julho de 1999, no milênio passado. Mesmo assim, a verdade é que o custo do dinheiro no Brasil sempre foi elevado e com as últimas altas da SELIC a situação se agravou mais ainda.
Se você é pagador fanático de juros do cheque especial e rotativo de cartão é bom começar a analisar o que esse hábito custa a sua vida.
No caso do exemplo dos mil reais – que não está longe da realidade – o prejuízo por ano ao consumidor é de R$ 2.760,44 (cartão de crédito). É um dinheiro que poderia ser usado para comprar algum sonho de consumo, ou mesmo pagar boa parte de umas férias.
Claro que eventualmente se apela para o uso desses juros caros em função de emergências da vida. Mas pense bem: será que antes de chegar em tal situação extrema, os gastos com coisas pouco significativas não te deixaram bem próximo de ficar devendo?
Mesmo não sendo a coisa mais agradável, vale a pena analisar os extratos do cartão de crédito e cheque especial e identificar o quanto se desperdiçou com juros e em gastos fúteis. Some essas quantias, veja o resultado; avalie como o dinheiro jogado fora poderia melhorar a sua vida.
Se essa sugestão virar um hábito, você estará no caminho da independência financeira: deixará de pagar e passará a receber juros.
No início o hábito de poupar é pouco atraente. Mas a conversa é de longo prazo. Por exemplo, aplicando R$ 100,00 por mês com remuneração de 12,75% (SELIC), ao cabo de 10 anos, o saldo da conta será de interessantes R$ 23.653,00. Se forem R$ 200,00 em 35 anos (tempo da vida profissional) o saldo será de R$ 1,3 milhão, o que patrocinará uma boa aposentadoria.
É uma opção de vida: o pequeno sacrifício de hoje pode gerar coisas boas no futuro.
Pare de jogar dinheiro no lixo pagando juros altos!
Eduardo Starosta

quinta-feira, 5 de março de 2015

A Culpa foi do FHC ou Ele Tinha Razão?

Em 2003, junto com Lula, um novo grupo de políticos assumia o poder federal. 

Fernando Henrique Cardoso encerrava naquela época seus dois mandatos com desgastes: a consolidação do Plano Real (iniciado na gestão de Itamar Franco) não se mostrou simples. A nova moeda era vista com desconfiança e qualquer problema ameaçava os ajustes feitos para evitar que o endividamento público causasse novamente a temida hiperinflação.

E nesse contexto o Brasil decidiu que era preciso mudar. Mas as transformações apregoadas pelo novo governo não eram assim tão simples e a justificativa para não executar o prometido era “a herança maldita do FHC”, lembra? 

No frigir dos ovos, a condução da economia foi ainda mais conservadora do que a liderada pelo ex-ministro da fazenda, Pedro Malan. E mesmo em um ambiente internacional amplamente favorável entre 2003 e 2008, as dificuldades para o Brasil crescer aceleradamente eram muito grandes.

 Mudanças significativas acabaram ocorrendo em ações sociais como a Bolsa Família. Mas tal estratégia de acréscimo de renda para gerar crescimento pela via do consumo costuma ser temporária. 

Paralelamente se fazia necessário investir em infraestrutura e criar um ambiente econômico propício ao desenvolvimento. E nesse ponto, a gestão federal foi um fiasco: grande parte das obras do PAC ficou no papel ou inacabadas; os impostos aumentaram; e a sobrevalorização do Real dilacerou boa parte da indústria brasileira. 

E na onda das alianças do PT com velhas e vampirescas oligarquias, o equilíbrio das contas públicas foi para as cucuias, levando junto estatais como a Petrobras. 

Diante do exposto, é chover no molhado mostrar surpresa ou indignação com a nova alta dos juros e a elevação de impostos. O fato é que isso não vai conter a alta da inflação e muito menos a recessão na qual o Brasil está entrando.

Talvez os atuais gestores do país ainda não tenham entendido que o verdadeiro segredo de viver sem inflação esteja escondido por trás do conceito de moeda forte: chama-se responsabilidade fiscal.

Essa foi a principal herança de FHC. Se tal prioridade fosse mantida, com aperfeiçoamento de práticas de gestão (que evitam o roubo), o Brasil de hoje seria bem melhor.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A Imoralidade Econômica

Disse o Barão de Itararé: “o homem é o bicho mais cafajeste que existe... a mulher também”.

Essa frase revela o que poucos admitem: a conduta correta só vale para quando os outros estão olhando. Se há a oportunidade de uma travessura impune, ela provavelmente será feita.

Vários estudos econômicos e sociológicos comprovam o freio dos humanos para executarem atos contra a ética estabelecida é a percepção do risco real de serem punidos pelas suas ações. Se tal risco é nulo, então as peraltices estão liberadas... por baixo dos panos é claro.

Isso explica os recentes casos de corrupção que assombram os brasileiros (assombram mesmo?): mensalão, petrolão, etc.

Mas será que é certo culpar apenas a classe política, ou a sensação de 
impunidade à corrupção é generalizada? Dois casos recentes mostram que a segunda opção é a mais correta.

Falo do juiz do Rio de Janeiro, Flávio Roberto de Souza, que se apropriou de dois carrões e um pianão apreendido do ex-bilionário Eike Batista. Lembro também do caso do pregão eletrônico da base da Marinha de Duque de Caxias (RJ), que orçou R$ 62 milhões para adquirir panquecas, lasanhas empadões e bebidas o suficiente para embriagar as Forças Armadas inteiras.

E assim vai ladeira abaixo a credibilidade do judiciário e dos militares brasileiros. Não que tais procedimentos possam ser generalizados para todos os membros das duas corporações. Mas há de se reconhecer que o estigma fica evidente.

Voltando a racionalidade econômica, tais coisas acontecem pela percepção do baixo risco de punição. Será que o juiz será demitido e preso; e os marinheiros metidos na farra da manguaça com lasanha seguirão o mesmo caminho? É pouco provável.

Mesmo na vida privada, são poucos os que resistem - tendo a certeza da impunidade - a evitar impostos, atravessar o sinal vermelho, ou dar uma puladinha de cerca (epa!).

Em resumo, sem o risco da punição, as regras são desmoralizadas. Essa é uma constatação histórica do Brasil e de vários países do mundo; normalmente aqueles que não conseguem se desenvolver.

Concluindo, antes de buscarmos solucionar crises com arroubos autoritários, o melhor é zelar para que as leis sejam cumpridas e que punam cegamente quem as descumprir.


Eduardo Starosta