quinta-feira, 26 de março de 2015

De Olho nas Ruas

É impensável falar de economia sem ficar de olho nas movimentações políticas. Atualmente no Brasil essa relação é especialmente estreita e vem determinando o comportamento de diversos indicadores.

Por exemplo, as turbulências no campo da política federal (escândalo da Petrobrás, conflito Executivo x Legislativo) têm sido muito consideradas pelos investidores internacionais na hora de comprar ou vender títulos da dívida brasileira. O efeito prático disso se dá no mercado de câmbio, com o dólar dando cambalhotas para cima e para baixo, com tendência de alta.

Dois dos dados que mais refletem a realidade atual: a popularidade de Dilma Rousseff mostra amplo descontentamento da população, com 64,8% de avaliações negativas à gestão da Presidente da República; e a aprovação na Câmara dos Deputados – com 389 votos a favor – de Projeto de Lei que reduz os juros das dívidas de estados e municípios com a União, evidenciando a fragilidade do diálogo entre executivo e legislativo.

Governo impopular com desintegração política é um coquetel explosivo. Bagunça certa!

Aproveitando a ocasião, os articuladores dos protestos do último dia 15 de março, agendaram novo evento para as ruas em 12 de abril.

A citada data já pode ser considerada um momento-chave para definir o futuro político (e econômico!) do Brasil. Caso o movimento mobilize mais pessoas do que o anterior, as chances são altas de que Dilma Rousseff perca suas últimas trincheiras de comando político. Na situação contrária – ou seja, o esvaziamento dos protestos – a presidente tenderia a ter oportunidade de reconquistar liderança.

Mas para isso ela vai ter que se virar nos 30. O prazo é curto e a população é muito suscetível a mimos, bondades que aumentem o dinheiro no bolso ou potencial de consumo.

Informações, daquelas que não se divulga a fonte, dão conta que setores do governo estão se preparando para trabalhar com a eventualidade do permanente enfraquecimento político de Dilma, o que reforçaria o papel do atual vice-presidente, Michel Temer. Nessa visão, onde o PMDB assumiria, de fato, o governo federal. A primeira missão seria diminuir drasticamente o número de ministérios.

A ampulheta foi virada. Estamos em contagem regressiva.


Eduardo Starosta

quinta-feira, 19 de março de 2015

Coitadinho do Irmãozinho do José


De vez em quando me arrependo em deixar para trás meu sonho de adolescente: ser oceanólogo, viver em alto mar, com tempo de sobra para pescar.

Mas a tentativa de entender a humanidade me levou à economia e à filosofia.
Porém, há certos momentos em que penso ter perdido tempo na leitura de milhares de páginas de teorias, análises, e outros textos de formação profissional.

Afinal, certezas lógicas estão ficando de pernas para o ar. Vamos analisar alguns casos:

Economia- Dizem que os juros devem subir se a pressão de consumo leva ao aumento da inflação. Mas que pressão de consumo é essa? As vendas estão caindo e o desemprego disparando. Aumentar juros nesse contexto é a certeza de aprofundamento recessivo (melhor cortar despesa pública);

Estatística - O Datafolha estimou que na passeata do último domingo na Av. Paulista (São Paulo) estiveram cerca de 200 mil manifestantes. A polícia falou em um milhão de pessoas. O normal seria o contrário: os aparatos de segurança forçando a barra para diminuir a importância do protesto, enquanto a imprensa (o Datafolha é da Folha de São Paulo) divulgaria os números mais sensacionais. De quem foi o erro grosseiro?

Política 1 – Em torno de 1% da população brasileira deixou a preguiça do domingo para reclamar do governo nas manifestações. Diante de tal proeza só superada pela campanha das Diretas Já e das Paradas do Orgulho Gay, Miguel Rosseto – Secretário Geral de Governo – alertou na TV que o protesto era de quem se opunha ao governo. Peraí: existe algum caso de gente que é a favor do governo se manifestar contra esse mesmo governo?

Política 2 – E no Congresso Nacional aprovaram a triplicação do Fundo Partidário, que vai a quase R$ 900 milhões por ano. Se os parlamentares querem provocar ainda mais a população, não seria mais fácil e menos custoso cada um colar nos seus próprios fundilhos uma tabuleta do tipo “ME CHUTE!”?

Direito – E finalmente, tive que ouvir meu irmão, José, professoralmente argumentar que os juízes são responsáveis pelos autos dos processos. Isso forneceu a base legal para que o célebre magistrado Flávio Roberto de Souza pudesse dirigir os AUTOmóveis apreendidos de Eike Batista.

Chega por hoje.

Fui!!!

Eduardo Starosta

quinta-feira, 12 de março de 2015

Pare de Pagar Juros

Saiu essa semana pesquisa da ANEFAC (Associação Nacional dos Executivos em Finanças) e os resultados são lamentavelmente espantosos.
Em fevereiro, os juros médios do rotativo do cartão de crédito aumentaram para 11,67% ao mês e do cheque especial chegou a 9,44%.
Se você fica devendo R$ 1.000,00 no cartão e “esquece de pagar”, depois de um ano a dívida chegará a R$ 3.760,44 (sem multas). No caso do cheque o valor a pagar ficará em R$ 2.951,98.
A última vez que o consumidor brasileiro esteve sujeito a juros tão elevados foi em julho de 1999, no milênio passado. Mesmo assim, a verdade é que o custo do dinheiro no Brasil sempre foi elevado e com as últimas altas da SELIC a situação se agravou mais ainda.
Se você é pagador fanático de juros do cheque especial e rotativo de cartão é bom começar a analisar o que esse hábito custa a sua vida.
No caso do exemplo dos mil reais – que não está longe da realidade – o prejuízo por ano ao consumidor é de R$ 2.760,44 (cartão de crédito). É um dinheiro que poderia ser usado para comprar algum sonho de consumo, ou mesmo pagar boa parte de umas férias.
Claro que eventualmente se apela para o uso desses juros caros em função de emergências da vida. Mas pense bem: será que antes de chegar em tal situação extrema, os gastos com coisas pouco significativas não te deixaram bem próximo de ficar devendo?
Mesmo não sendo a coisa mais agradável, vale a pena analisar os extratos do cartão de crédito e cheque especial e identificar o quanto se desperdiçou com juros e em gastos fúteis. Some essas quantias, veja o resultado; avalie como o dinheiro jogado fora poderia melhorar a sua vida.
Se essa sugestão virar um hábito, você estará no caminho da independência financeira: deixará de pagar e passará a receber juros.
No início o hábito de poupar é pouco atraente. Mas a conversa é de longo prazo. Por exemplo, aplicando R$ 100,00 por mês com remuneração de 12,75% (SELIC), ao cabo de 10 anos, o saldo da conta será de interessantes R$ 23.653,00. Se forem R$ 200,00 em 35 anos (tempo da vida profissional) o saldo será de R$ 1,3 milhão, o que patrocinará uma boa aposentadoria.
É uma opção de vida: o pequeno sacrifício de hoje pode gerar coisas boas no futuro.
Pare de jogar dinheiro no lixo pagando juros altos!
Eduardo Starosta

quinta-feira, 5 de março de 2015

A Culpa foi do FHC ou Ele Tinha Razão?

Em 2003, junto com Lula, um novo grupo de políticos assumia o poder federal. 

Fernando Henrique Cardoso encerrava naquela época seus dois mandatos com desgastes: a consolidação do Plano Real (iniciado na gestão de Itamar Franco) não se mostrou simples. A nova moeda era vista com desconfiança e qualquer problema ameaçava os ajustes feitos para evitar que o endividamento público causasse novamente a temida hiperinflação.

E nesse contexto o Brasil decidiu que era preciso mudar. Mas as transformações apregoadas pelo novo governo não eram assim tão simples e a justificativa para não executar o prometido era “a herança maldita do FHC”, lembra? 

No frigir dos ovos, a condução da economia foi ainda mais conservadora do que a liderada pelo ex-ministro da fazenda, Pedro Malan. E mesmo em um ambiente internacional amplamente favorável entre 2003 e 2008, as dificuldades para o Brasil crescer aceleradamente eram muito grandes.

 Mudanças significativas acabaram ocorrendo em ações sociais como a Bolsa Família. Mas tal estratégia de acréscimo de renda para gerar crescimento pela via do consumo costuma ser temporária. 

Paralelamente se fazia necessário investir em infraestrutura e criar um ambiente econômico propício ao desenvolvimento. E nesse ponto, a gestão federal foi um fiasco: grande parte das obras do PAC ficou no papel ou inacabadas; os impostos aumentaram; e a sobrevalorização do Real dilacerou boa parte da indústria brasileira. 

E na onda das alianças do PT com velhas e vampirescas oligarquias, o equilíbrio das contas públicas foi para as cucuias, levando junto estatais como a Petrobras. 

Diante do exposto, é chover no molhado mostrar surpresa ou indignação com a nova alta dos juros e a elevação de impostos. O fato é que isso não vai conter a alta da inflação e muito menos a recessão na qual o Brasil está entrando.

Talvez os atuais gestores do país ainda não tenham entendido que o verdadeiro segredo de viver sem inflação esteja escondido por trás do conceito de moeda forte: chama-se responsabilidade fiscal.

Essa foi a principal herança de FHC. Se tal prioridade fosse mantida, com aperfeiçoamento de práticas de gestão (que evitam o roubo), o Brasil de hoje seria bem melhor.

Eduardo Starosta