quinta-feira, 28 de maio de 2015

Lembrando dos Tempos de Guerra

Se estamos alarmados com o desenrolar da atual crise política e econômica brasileira – causada pela incompetência dos gestores públicos – um rápido olhar no panorama internacional pode nos deixar em pânico.

O jornal estatal chinês, Global Times, discorreu nessa semana, em editorial, a respeito das crescentes chances de uma guerra entre China e Estados Unidos por conta de desavenças nas águas internacionais do Pacífico.

O fato é que os chineses estão construindo ilhas artificiais de forma a ampliar seu alcance territorial. Os norte-americanos não estão gostando desse expansionismo e mandam seus aviões-espiões para verificar o andamento das obras de infraestrutura dessas novas possessões.

A citada nação oriental, com uma população superando a casa dos 1,3 bilhão de habitantes, detém um território vasto, mas majoritariamente problemático para a vida humana sustentável. 

O expansionismo chinês já é conhecido há décadas (e em uma visão histórica mais ampla, há milênios), sendo pauta permanente de preocupação dos governos do Japão e Coréia do Sul.

Mas essa história tem ainda mais uma faceta: o milagre econômico que levou a China rapidamente ao posto de segunda potência mundial pode estar prestes a desabar. A dívida do país já chega a 280% do PIB nacional e caminha rapidamente para o patamar dos 400%. Isso deixa evidente que o setor bancário chinês está assumindo cada vez maior alavancagem (= empréstimos com menor lastro), o que repete a situação que gerou a crise financeira global em 2008. 

E isso está acontecendo bem no momento em que o Partido Comunista (ironicamente “dono da economia de mercado”) encaminha a mudança do padrão do desenvolvimento nacional, que deixaria de priorizar as exportações em favor do mercado interno.

A frustração tende a ser grande e nesses casos, a história mostra que a solução política dos ditadores é atribuir as culpas a algum inimigo externo. Um eventual embate de forças entre os chineses (com provável apoio da Rússia) e norte-americano (junto com OTAN) terá um desfecho incerto, mas trará traumas e danos irreparáveis à humanidade e ao planeta.

O contexto lembra muito as condições objetivas que deflagraram a I Guerra Mundial: a Alemanha emergente e competitiva enfrentava  boicotes aos seus produtos por parte dos outros países europeus e suas colônias. A luta armada encerrou com a derrota dos germânicos, oficializada na assinatura do Tratado de Versalhes, o qual impunha uma situação de miséria aos alemães. 

Tal burrada política pavimentou a ascensão do nazismo e suas barbáries. Daí veio a II Guerra e mais milhões de mortos.

A sabedoria da política externa dos Estados Unidos na época foi, através do Plano Marshall, viabilizar a construção de sociedades ricas no Japão e Alemanha, transformando os antigos inimigos em amigos incondicionais.

Nessa ótica, talvez seja melhor para todos, a revisão do posicionamento das relações sino-americanas dentro do contexto global. Por exemplo, permitir que o Yuan (moeda chinesa) entre para a cesta de moedas do FMI, podendo ser internacionalmente negociada, aliviaria completamente as pressões financeiras chinesas nos próximos anos e, consequentemente, garantiria a paz e a oportunidade de gradativa democratização da China.

A alternativa a esse desfecho seria assistir à implosão da economia chinesa, o que traria a guerra e o flagelo de todos nós.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O País do Pendura

A situação está ficando para lá de danada nesse nosso país. 

Relatório divulgado essa semana pela Serasa-Experian aponta que 54,3% das empresas brasileiras estão com pelo menos uma dívida em atraso. O valor total da inadimplência das pessoas jurídicas chega a R$ 86,4 bilhões.

Para colocar em números mais palpáveis, esse valor corresponde a cerca de 18,8% de tudo o que o Brasil produz em um mês. Outra relação esclarecedora: cada empresa inadimplente, está, em média, “pendurado” com R$ 22,8 mil.

É claro que essa situação que afeta o ambiente nacional de negócios está ligada a dois fatores principais: atraso de pagamento das pessoas físicas e estoques parados de mercadorias e insumos comprados e não revendidos.

O grande problema é que em realidades como essa há grandes chances de se gerar um efeito em cadeia de proporções desastrosas para todos. 

Obviamente, quem não recebe seus créditos fica com menos dinheiro para honrar as contas a pagar e frequentemente acaba também entrando para o clube dos devedores.

Paralelamente a isso temos os entraves do setor público aumentando juros, subindo impostos e atrasando o pagamento de vários fornecedores privados.

Pegue todos esses ingredientes, enfie-os em uma panela quente, mexa uns 10 segundos e dê o fora: a explosão será grande e muito malcheirosa. E ao contrário do que os governos desejam, a primeira vítima da falta de dinheiro serão os impostos...

Ainda é prematuro para se afirmar categoricamente que a situação da inadimplência está fora de controle. Mas não há dúvidas de que o caminho atual nos conduz a tal destino.

Em situações como essa, qualquer solução passa, obrigatoriamente, pela geração de renda nova. Ou seja, as pressões implementadas (alta de juros e impostos) pelas autoridades econômicas aos consumidores e empresas com o objetivo de conter a inflação devem ser desmobilizadas no menor prazo possível, sob pena de crescente risco de um efeito em cadeia catastrófico de não pagamentos. 

Caso as ações estratégicas propostas pelo ministro Levy, da Fazenda, sejam realmente implementadas e o governo federal deixe de gastar R$ 80 bilhões em 2015, poderá ser dado um importante passo para a desoneração da sociedade junto ao fisco e os bancos. 

Em outras palavras, a hora é de injetar renda para reverter o pendura geral no qual se transformou as relações econômicas no Brasil.

A alternativa a esse cenário é o aprofundamento recessivo e o desabastecimento. 

Daí é que poderemos ter uma amostra do que os venezuelanos estão vivendo na atualidade.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Quando Reformas não Adiantam Mais

Sempre quando as coisas vão mal no Brasil ouvimos falar da necessidade de se fazer reformas: reforma fiscal, reforma política, reforma administrativa, reforma o escambau e por aí afora.
Depois que a crise passa, a conversa vai ficando aos poucos de lado e o que resta é mais um aumento de impostos absorvido pelos gestores públicos e que vai saciar a fome da máquina estatal por algum tempo (não muito!), até que surgirá nova pressão por aumento de gastos... e ferro nos impostos!
Então, caro leitor, se você começar a ouvir os políticos falarem em reformas, assuste-se; pois é o seu bolso que será “reformado” com mais furos.
Paralelamente a isso, o FMI sugere que para conter a inflação, o Brasil terá de subir os juros ainda mais. Não que os economistas do Fundo estejam errados. Lamentavelmente eles estão tecnicamente certos.
Entretanto, foi esquecido um componente importante que diferencia o Brasil do resto do mundo: depois de eventualmente debelada a inflação, a sua causa – a emissão monetária – volta a ser explorada pelo governo, na busca de mais e mais dinheiro.
Em outras palavras, subir juros e aumentar impostos aqui pelas terras tupiniquins só significa transferir renda de quem produz e trabalha para as mãos dos administradores públicos que – com raras exceções – não sabem como usar dinheiro.
É triste, mas as tais reformas nada mais são do que sangrias que só acabarão quando o estoque de sangue da sociedade secar. É vampirismo puro!
Quem tem ou teve casa velha sabe que chega um momento em que é mais racional e barato botar tudo abaixo e fazer uma nova construção; reformar seria apenas colocar dinheiro bom em alicerces podres.
Pode ser ousado, mas o Brasil do futuro só dará certo na medida em que nos convençamos a destruir o prédio que representa o Brasil do presente. Ou será que deveríamos insistir em botar para funcionar algo que nunca correspondeu às expectativas?
Sejamos realistas: um país onde os juros, impostos e inflação sobem, ao mesmo tempo em que a produção e o emprego caem de forma aguda, sofre do que os médicos chamariam de falência múltipla dos órgãos. Isso é sinônimo de morte clínica.
O mais inteligente, então, seria aproveitar o tempo que resta de relativa estabilidade social e demolir o Estado brasileiro de forma serena e planejada, tendo pelo menos algumas poucas diretrizes claras do que se quer para o futuro e de como deveríamos ser governados.
Isso serviria de base para uma nova Constituição. Quanto menos artigos, tanto melhor. O fundamental é que o texto constitucional seja claro, conciso e sem penduricalhos e armadilhas orçamentárias.
A alternativa a isso é a Casa Brasil ruir sobre nossas cabeças. Daí, de nada adiantará governar o ingovernável.
Utopia? Então, responda a três perguntinhas:
1) Você aceita pagar mais impostos?
2) Você respeita os seus governantes?
3) Você tem a percepção de que a sua vida está segura?
Eduardo Starosta

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O Colapso da Verborreia

Verborreia é uma palavra pouco usada. Mas quem a ouvir ou ler, mais ou menos saberá o seu significado: falar, discursar e discutir exaustivamente sem qualquer senso de consequência e conteúdo sobre o que, como e em que contexto as coisas são ditas.

Pois bem, se o Brasil pode ter a honra de se orgulhar de muitos de seus poetas e escritores, por outro lado, a paixão de nossa elite pelo uso das palavras acabou gerando uma série de besteiras e inconsequências.
Lamentavelmente, boa parte de tais babaquices moram dentro de nosso texto constitucional.

Quando foi feita a Carta Magna de 1988, a maior parte dos congressistas estava fortemente influenciada emocionalmente pela contraposição aos tempos da ditadura. Equivocadamente, isso descambou para uma Constituição que buscava proteger o povo através da força do Estado, aprovando-se uma série de aparentes benefícios, mas sem sustentação orçamentária.

Por conta disso, a inflação da época se acelerou ainda mais; e quando os preços foram estabilizados pelo Plano Real, o financiamento das despesas exageradas convergiu para o aumento da carga tributária que partiu de cerca de 23,5% do PIB em 1995, para patamares próximos de 40% na atualidade.

E nesse período de 2 décadas, afora raras exceções, o que se assistiu nos Três Poderes foi uma sucessão de mandos e desmandos justificados pela plástica das palavras e não por sua real consequência estrutural no desenvolvimento da sociedade. Ou seja, a verborreia criou uma série de benefícios a segmentos eleitorais expressivos que não tinham sustentabilidade pela geração de renda do setor produtivo.

No frigir dos ovos, mesmo com o papo de responsabilidade fiscal, o que encontramos hoje é a União, praticamente todos os Estados e a maioria dos municípios, em situação falimentar, sem ter de onde tirar mais dinheiro. Como Dilma e Levy verão logo adiante, chegamos a um ponto no qual aumentar ainda mais os impostos não vai gerar caixa de arrecadação, pois a base tributária cairá mais do que a repercussão das novas alíquotas.

Especificamente para a União a situação fica um pouco mais fácil com a inflação elevada (o chamado imposto inflacionário), mas isso vai deixar a população ainda mais revoltada.

Na prática, o que se vê é que não há mais saída. A redução da despesa pública é a única forma de reconquistar o equilíbrio fiscal do país (estados e municípios também) e isso fatalmente descamba para o corte de custeios sem sustentabilidade.

A mexida no seguro-desemprego; diminuição de subsídio no financiamento habitacional; redução da proteção trabalhista, dentre outros itens – doa a quem doer – fazem parte de um processo de descontaminação das décadas de verborreia.

Como tais iniciativas tiveram que, forçosamente, partir do governo federal, não se tira a razão da oposição em argumentar a existência do tal do estelionato eleitoral.

Por outro lado, é incabível que essa mesma oposição – que vem apregoando nos últimos anos o discurso da responsabilidade fiscal – se coloque radicalmente contra tais ajustes, por uma questão de revanchismo, especialmente porque se eles estivessem no governo, estariam propondo ações iguais ou similares.

Ou seja, a verborreia está mudando de lado. E se essa prática não entrar logo em colapso, as figuras públicas terão de morder as próprias línguas; e o resto da sociedade entrará em uma crise sem precedentes.

Eduardo Starosta